Tucci faz a crônica de uma certa Nova York

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Por Agencia Estado
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Você pode até achar que está vendo uma ficção, mas no fim do filme um letreiro informa que a história é real e fala sobre o que ocorreu com os personagens depois que Crônica de uma Certa Nova York termina. É o novo filme do ator e diretor Stanley Tucci, ligado à vertente nova-iorquina da produção independente dos EUA. O próprio Tucci interpreta um jornalista que conhece e se interessa por um certo Joe Gold. Interpretado por Ian Holm, esse personagem põe o foco sobre o sem-teto. Gold é o típico louquinho das ruas. Na verdade é escritor. Escreve uma história das gentes de Nova York. Gold quer colocar em texto tudo o que ouve das vozes anônimas da cidade. A pintora representada por Susan Sarandon diz que ele encarna o espírito de Nova York. Pode-se elogiar Tucci e, especialmente, Ian Holm por terem fugido ao estereótipo com que o cinema americano costuma retratar o sem-teto. Você talvez se lembre da falsidade de Matt Dillon e Danny Glover em Alguém para Dividir os Sonhos. Joe Gold convence na interpretação de Holm, esse ator, quase sempre coadjuvante, que ligou seu nome a grandes títulos do cinema de língua inglesa. Mas Tucci tem mais ambição do que simplesmente colocar na tela um sem-teto que tenha ligação com o mundo real. Ele usa Joe Gold e sua ligação com o jornalista Joe Mitchell, da revista New Yorker, para discutir questões um pouco mais complicadas. Gold dedica sua vida a uma criação, mas a partir de um determinado momento o que Mitchell se pergunta é se essa criação existe. E mais: ela passa a ser sua obsessão e a de outras pessoas, que querem recolher o legado de Joe Gold. A busca do inexistente e até do impossível é o tema de Crônica de uma Certa Nova York, associado à criação literária, mas também à cinematográfica, que é a praia de Tucci. Talvez não seja um filme realmente bom. Não é, mas levanta questões pertinentes, às quais vale prestar atenção.

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