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Truffaut terá obra revisitada no Belas Artes

'Colônia de férias' do Belas Artes vai homenagear, além de François Truffaut, Wong Kar-wai e Ingmar Bergman - além de dedicar uma semana aos clássicos

Por Luiz Carlos Merten
Atualização:

Filmes de François Truffaut, Wong Kar-wai e Ingmar Bergman, além de uma semana inteira só de clássicos. O Belas Artes entra em ritmo de férias de julho incrementando a programação. Durante este mês, toda semana haverá uma seleção de filmes dedicada a cada um dos diretores citados. A primeira semana da ‘Colônia de Férias’ contempla Truffaut, com os filmes Os Incompreendidos, Um Só Pecado, Domicílio Conjugal, Jules e Jim/Uma Mulher para Dois, As Duas Inglesas e o Amor, De Repente num Domingo e O Último Metrô. Todos serão exibidos em DCP, e num único horário, 18h30. Os ingressos serão mais baratos – R$ 14 e R$ 7.

'Jules e Jim'. A bela história de um triângulo amoroso Foto: Les Films du Carrosse

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Há um culto a François Truffaut, que sempre disputou com Jean-Luc Godard a chefia de fila da nouvelle vague, movimento de renovação do cinema francês na segunda metade dos anos 1950. Ambos vieram da crítica, e Truffaut ficou célebre por um artigo em que desmontava o chamado ‘cinema (francês) de qualidade’ dos anos 1940 e 50. Sua estreia foi retumbante – e ele foi premiado em Cannes por Os Incompreendidos/Les Quarte-Cents Coups, em 1959. Jean Cocteau integrava o júri e o apadrinhou.

Romântico que desconfiava do romantismo, Truffaut, até sua morte prematura – em 1984, aos 52 anos, vítima de um tumor no cérebro –, foi amado e odiado como nenhum outro diretor de sua geração. No Dicionário de Cinema, Jean Tulard conta que sua morte tomou dimensões de luto nacional na França. A crítica, porém, tem sido revisionista – na evolução de sua obra, Truffaut, como um pequeno-burguês, se teria transformado num daqueles diretores de qualidade que desprezava como crítico. A programação do Belas Artes oferece a oportunidade de, mais uma vez, revisitar (e revisar) o cinema de Truffaut.

O melhor de todos esses filmes é Jules e Jim, a primeira adaptação que o cineasta fez de um romance de Henri-Pierre Roché, em 1961. Dez anos depois, surgiu a segunda – As Duas Inglesas e o Amor, que também integra o programa. Jules e Jim mostra Jeanne Moreau como a terna e cruel Catherine, que entra na vida dos amigos interpretados por Oskar Werner e Henri Serre. É um filme que, sozinho, resume o estilo e os temas caros ao artista – a saudade das coisas mortas e também das coisas vivas que vão desaparecendo. As Duas Inglesas inverte o triângulo – dessa vez são duas mulheres, Kika Markham e Stacey Tendeter, na vida de Jean-Pierre Léaud. O próprio Truffaut conceituava – existem muitos filmes sobre o amor físico; esse é um filme físico sobre o amor.

Baseado na experiência pessoal do jovem Truffaut – senão realmente autobiográfico –, Os Incompreendidos mostra como ele (Antoine Doinel/Léaud, na tela) poderia ter virado delinquente, se não fosse o amor que o crítico André Bazin despertou nele pelo cinema. Domicílio Conjugal prossegue a biografia imaginária de Doinel. Dos demais filmes, O Último Metrô, com Gérard Depardieu e Catherine Deneuve, é o mais romanesco, e o maior sucesso de público do diretor.

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