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Trinta e cinco anos sem o mito John Wayne

Cada vez mais críticos e historiadores avaliam que o Duke, como era chamado, foi, sim, um grande ator

Por Luiz Carlos Merten
Atualização:

Durante muito tempo criou-se o mito de que Marion Morrison, que se tornou conhecido como John Wayne, seria somente um rosto esculpido na pedra. Essa persona maior que a vida foi utilizada por grandes diretores, mas Wayne, que virou ícone, não era propriamente um ator. Nada mais falso. Cada vez mais críticos e historiadores avaliam que o Duke, como era chamado, foi, sim, um grande ator. Basta lembrar seu maiores papéis, em clássicos de John Ford e Otto Preminger.

Nenhuma cena é mais emblemática do gênio de Ford – e da grandeza de Wayne – do que aquela em que ele abre os braços para acolher Natalie Wood no desfecho de Rastros de Ódio, e isso depois de passar o filme inteiro procurando pela garota, para matá-la. Em A Primeira Vitória, Preminger o filme estropiado numa cama de hospital. O olhar que troca com Patricia Neal é daqueles que justificam uma arte.

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Completam-se em junho 35 anos da morte de John Wayne, em 1979. Ele nasceu em 1907 e chegou ao cinema depois de ter sido campeão de futebol. Tinha mais de 1,90m, era charmoso e viril, mas detestava o próprio nome – Marion Michael. Trocou-o para John Wayne, que soava mais másculo. John Ford, que já era diretor, notou-o, mas Raoul Walsh contratou-o antes para o western The Big Trail, de 1930. Como punição, Ford esperou quase dez anos até fazer dele o Ringo Kid do western clássico Stagecoach, No Tempo das Diligências, em 1939.

Nos anos e décadas seguintes, John Wayne não parou mais de filmar – com Ford e outros grandes, como Howard Hawks, Henry Hathaway, Edward Ludwig. O tempo passou, o rosto adquiriu rugosidades, e elas consolidaram o mito. Cristalizou-se também o estilo de representar. Era econômico, minimalista. E se era bom de tiro e de punhos, tinha aquele olhar ferido. Em Rastros de Ódio e, depois, em O Homem Que Matou o Facínora, é o solitário que perdeu a mocinha. Em Depois do Vendaval, na recriação da Irlanda idílica de Ford, ele tem de brigar a socos para merecer o amor de Maureen O’Hara.

Durante anos, John Wayne foi o astro preferido do público nos EUA e, talvez, no mundo. Quando recebeu seu Oscar – por Bravura Indômita, de 1969 –, estava obviamente se autoparodiando na figura do xerife bêbado e balofo. Direitista convicto, deu seu apoio ao republicano Barry Goldwater, na eleição de 1964. Jean-Luc Godard na época escreveu que era possível odiar o Duke por seu apoio a Goldwater – e impossível não amá-lo por seu momento com Natalie Wood, na obra-prima de Ford.

Uma nova biografia de John Wayne está saindo nos EUA, contando sua história. Ele foi grande, imenso. Mas Ford, o Homero de Hollywood, não era fácil. Como de seus outros colaboradores, ele exigia do Duke submissão completa. Quando o ator resolveu ser diretor e fez Álamo, em 1960, Ford foi visitá-lo no set. Sem a menor cerimônia, sentou-se na cadeira do diretor e desautorizou John Wayne diante da equipe, dizendo que o que estava fazendo era errado. Gênios podem ser difíceis – são difíceis. Mas Wayne nunca reclamou de Ford. Devia saber, no íntimo, que papéis como aqueles que o mestre lhe oferecia não tinham preço.

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