Trilha mostra o espírito da canção francesa

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Por Agencia Estado
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Num restaurante, ao lado da mesa dos protagonistas, duas moças conversam. A loura faz queixas de amor para a outra. Diz: "Non, rien de rien, non, je ne regrette rien" - ela não se arrepende de nada. Cai em pranto e a câmara vai aos personagens principais. As palavras da moça são as dos versos iniciais da canção Je ne Regrette Rien, de Charles Dumont e Michel Vaucaire. Foi um dos maiores sucessos de Edith Piaff e é piada de Alain Resnais que exatamente esses versos sejam falados, não cantados. Je ne Regrette Rien é um dos símbolos do que se entende por canção francesa - o canto do amor desesperado, passional, desabrido, sem pudor de confessar o fracasso ou explicitar o desejo. A trilha sonora de Amores Parisienses mostra que do início do século ao fim dos anos 90 mudaram os estilos musicais - ritmo, padrão melódico, instrumentação -, mas não mudou tanto o caráter da poesia. No reggae Sous les Jupes des Filles, Alain Souchon fala com todas as letras dessa mania que têm os rapazes de olhar sob os vestidos das meninas. O mosaico montado pela trilha vem de um gaiato e hipocondríaco Gaston Ouvrard (Je ne Suis pas Bien Portant) e de uma dividida Joséphine Baker (J´Ai deux Amours) aos hippies profissionais Serge Gainsbourg (Je Suis Venu te Dire que Je m´Em Vais) e Jane Birkin (Quoi), passando pelo armênio Charles Aznavour (Et moi Dans mon Coin), pelo histriônico Gilbert Bécaud (Nathalie), pelo gritalhão Johnny Hallyday. Curiosamente - e pode ser outra piada de Resnais -, não está na trilha a canção Ne me Quitte Pas, do belga Jacques Brel, que em música, poesia e interpretação resume, ao lado de Je ne Regrette Rien e algumas outras, o tal espírito da canção francesa. Mas, de certa forma, os personagens estão dizendo, o tempo todo: "Não me deixe." Talvez fosse redundante.

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