'Três Anúncios para Um Crime' e 'Pantera Negra' estão entre as estreias da semana

Confira informações sobre os filmes que entram em cartaz no Brasil nesta quinta-feira, dia 15

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Foto do author Luiz Zanin Oricchio
Por Luiz Zanin Oricchio e Luiz Carlos Merten
Atualização:
Frances McDormand em 'Três Anúncios para Um Crime' Foto: Fox Searchlight Pictures

Três Anúncios para Um Crime(Reino Unido-EUA/2017, 116 min.) Dir. de Martin McDonagh. Com Frances McDormand.

Luiz Zanin Oricchio - Frances McDormand faz a mãe inconformada com a morosidade da lei em desvendar o estupro e assassinato de sua filha. Um retrato cruel (mas com muita bossa) da América interiorana, onde o racismo e o sexismo imperam. 

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Pantera Negra  (EUA/2018, 134 min.) Dir. de Ryan Coogler. Com Chadwick Boseman, Michael B. Jordan, Lupita Nyong’o 

Luiz Carlos Merten - O cineasta Ryan Coogler tem feito filmes interessantes sobre a questão racial na “América” – é o caso de Fruitvale Station – A Última Parada (2013) e Creed: Nascido para Lutar (2015). Por conta disso, havia a expectativa de que Pantera Negra, sobre o herói negro dos comics, pudesse ter um efeito semelhante ao de Mulher-Maravilha, no ano passado.

Cena do filme 'Pantera Negra' Foto: Marvel Studios

O longa de Patty Jenkins, de alguma forma, impulsionou o debate sobre o empoderamento feminino. Pantera Negra decepciona como contribuição ao debate da negritude. Coogler cria a oposição entre um negro conciliador e outro, radical. Chadwick Boseman vs. Michael B. Jordan. 

É como estar de volta aos anos 1960 – abaixo a ideologia dos Panteras Negras. Não é só uma questão de ideologia. Algumas soluções – a poção mágica que dá poder ao herói e, depois, ao antagonista – não estão bem resolvidas. Mas é possível ver o filme com certo prazer. A direção de arte, que une o futurista e o primitivo, é prodigiosa. O elenco negro é ótimo. O problema é que, pela importância do tema, podia-se esperar muito mais.

Eu, Tonya (EUA/2017, 120 min.) Dir. de Craig Gillespie. Com Margot Robbie, Allison Janney, Sebastian Stan.

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É bem a cara do Oscar. O melhor de todos os filmes – Dunkirk, de Christopher Nolan – está lá por uma questão de prestígio, e deve ganhar prêmios técnicos, mas não leva filme nem direção, porque Nolan é um diretor de blockbusters e o Oscar, afinal, é “arte”. Guillermo Del Toro deve ganhar a estatueta de direção e é provável que a Academia divida os prêmios principais, de filme e diretor, como tem ocorrido com certa frequência.

Tirando Dunkirk, o melhor filme do Oscar 2018 nem ficou entre os indicados da categoria. Eu, Tonya é transgressor demais para o padrão Oscar de qualidade. Como Lady Bird – A Hora de Voar, que tem sua graça, é outra história sobre garota do lado errado dos trilhos. Saoirse Ronan, no filme de Greta Gerwig, chega a se passar pelo que não é e vive a clássica história de remissão hollywoodiana.

Tonya, a maior patinadora do mundo, passa pelo filme como saco de pancada. Apanha de todo o mundo. Da mãe, do marido, dos juízes, do sistema. Mas ela devolve os golpes ao substituir os patins pelas luvas de boxe. Prepare-se que aí vem golpe.

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Mãe e filha, como em Lady Bird. Mamãe é uma fera, um monstro, ou – quem sabe – está querendo somente o melhor para a filha. E a história de Tonya tem tudo. Família, mesmo que seja o inferno, romance, arte, bandidagem. Ódio. Margot Robbie é, como se diz, “terrific”. E ela ainda patina! Allison Janney vai levar o Oscar de coadjuvante. A montagem concorre, mas não ganha. Sebastian Stan, o Soldado Universal, nem foi lembrado pela Academia. Dá um banho.

Craig Gillespie fez um filme descolado, transgressivo. Um falso documentário que elimina a quarta parede e no qual todo mundo fala/olha com e para a câmera. E o filme ainda escancara a “América” interiorana que sustenta Trump. Gillespie tem uma frase ótima. Citando seu montador, diz que nenhum filme termina, só é lançado. / L.C.M.

Mudbound – Lágrimas Sobre o Mississipi (Estados Unidos/2017, 134 min.)Dir. de Dee Rees. Com Garrett Hedlund, Jason Mitchell, Carey Mulligan.

A atriz Carey Mulligan tem sido veemente na defesa da diretora de Mudbound – Lágrimas sobre o Mississippi. Diz que, se Dee Rees fosse homem, e branco, estaria no Oscar e até dirigindo Star Wars. Carey levanta a bandeira de que a série mítica ainda não teve uma diretora. Até a produtora Kathleen Kennedy admite se incomodar com isso.

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Mudbound cavou quatro indicações no Oscar – atriz coadjuvante, fotografia (a primeira mulher indicada na categoria, Rachel Morrison), canção e roteiro adaptado. Merecia mais. Talvez o relato pareça antigão – dois soldados, um branco e outro negro, de volta ao Sul agrário e racista, após a guerra. O negro foi acolhido como libertador na Europa, teve uma amante branca, para a qual sua cor nunca foi problema. E agora ele está de volta, com a KKK no seu encalço.

Só tem diálogo com o ex-soldado branco, que bebe até cair. Ele se revolta. Há mais de 50 anos, Otto Preminger fez um filme contando uma história similar. Tensões raciais, sociais, sexuais: O Incerto Amanhã. Passado todo esse tempo, a cultura do ódio permanece. Mudbound é maravilhoso. / L.C.M.

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Lady Bird – A Hora de Voar (Estados Unidos/2017, 93 min.) Dir. de Greta Gerwig.Com Saoirse Ronan, Laurie Metcalf, Tracy Letts

Em sua estreia como diretora, a badalada Greta Gerwig (Frances Ha) acerta com Lady Bird, filme de perfil “indie”, despretensioso, mas que pode tocar o coração (mais que a mente) de muita gente. 

Saoirse Ronan é Christine, auto-rebatizada como a Lady Bird do título. Quer voar, deseja fazer faculdade fora da cidade de Sacramento, onde mora com a mãe e o pai. O ambiente é meio pesado. A mãe (Laurie Metcalf) pega duro, é controladora ao extremo e trabalha por dois. O pai (Tracy Lets), com o qual a garota se identifica mais, está desempregado. 

O filme não tem qualquer grande novidade. Traz uma história clássica de passagem da adolescência para a idade adulta. Com os primeiros namoros, a indefinição profissional, as brigas com os pais, etc. É bem dirigido por Greta e interpretado com graça por Saoirse. Pode muito bem surpreender neste Oscar problemático. Está indicado em cinco categorias, todas fortes: filme, direção, roteiro, atriz e atriz coadjuvante. É jovem e simpático, e tudo isso conta. / L.Z.O.

Antes do Fim(Brasil/2017, 82 min.) Dir. de Cristiano Burlan. Com Helena Ignêz, Jean-Claude Bernardet, Ana Carolina Marinho.

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Antes do Fim, do cineasta Cristiano Burlan, trabalha questões como velhice, morte e eutanásia. Há um par central em torno do qual tudo gira. Ela é interpretada por Helena Ignês; ele, por Jean-Claude Bernardet. 

Essas duas personas do cinema brasileiro fazem inesquecível esse casal divergente. Ele, sentindo a velhice e o fim, deseja acelerar a morte. Quer que a mulher o acompanhe ou, pelo menos, o assista. Cheia de energia, ela não tem a menor intenção de antecipar o fim. 

Em preto e branco, este belo filme é composto por diálogos inteligentes entre os dois e também por passeios noturnos por São Paulo, num bonito trabalho de câmera. Um clima intimista e cúmplice faz com que nos aproximemos deles, de suas alegrias e temores. 

O tema da 3.ª idade é delicado. Muitos se acercam dele com medo e luvas de pelica. Burlan inclui a coragem como elemento fundamental para falar da velhice e também da finitude. Filme adulto. / L.Z.O.

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