Trajetória de Lula inspira quatro filmes

Em seu primeiro ano de mandato, Lula estará nas telas nos documentários de João Moreira Salles, Eryk Rocha (filho de Glauber), e Eduardo Coutinho; além de uma ficção com roteiro de Denise Paraná

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Por Agencia Estado
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O presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, será personagem de quatro filmes. Três documentários e uma ficção. Em seu primeiro ano de mandato, Lula estará nas telas como protagonista de Diário de Campanha, de João Moreira Salles; como coadjuvante em Intervalo Clandestino, de Eryk Rocha (filho de Glauber), e numa espécie de Lula, o Metalúrgico (o nome do documentário continua em aberto), de Eduardo Coutinho. Em 2004, a história de Lula (a infância nordestina, a juventude em Santos, no litoral paulista, e a maturidade como líder metalúrgico em São Bernardo, no ABC) será transformada em longa ficcional, roteirizado pela pesquisadora e jornalista Denise Paraná. Denise levará para os cinemas o livro de sua autoria, O Filho do Brasil. Trata-se de tese de doutorado defendida na USP e que, com pequenas adaptações, foi editado pela Xamã, em 1996. Por enquanto, a biógrafa de Lula negocia os créditos técnicos do filme e cerca-se de segredos. "Só posso adiantar que o roteiro encontra-se em estágio avançado. Nada mais." Produtor e diretor só serão conhecidos quando todos os contratos estiverem assinados. Denise deixa escapar que o principal nome envolvido no projeto está no exterior, "em negociações com parceiros internacionais interessados em co-produzir o filme". E adianta que "o diretor do filme é nome dos mais respeitados, com obra de grande significação". Nega que seja o cineasta Cirineu Kuhn, da Verbo Filmes, o cinemanovista Walter Lima Jr. ou o publicitário Duda Mendonça. "Duda é um grande publicitário não um cineasta." Sobre o roteiro que está escrevendo, Denise não guarda segredos. "O filme será um drama social, sem nenhum resquício de propaganda política." E mais: "Dona Lindú, mãe (já falecida) do presidente eleito será personagem-chave e funcionará como narradora." O filme terá "um ponto de vista feminino". Cogitou-se que o papel de Dona Lindú caberia à atriz Fernanda Montenegro. "Vou adorar se ela for escalada para o papel e aceitar", diz a roteirista, "mas é preciso ficar claro que escolha de elenco é função do diretor". A biógrafa do presidente eleito cita os momentos que julga mais emocionantes em seu roteiro ficcional: "a viagem de pau-de-arara, feita pela família de Lula, de Pernambuco para São Paulo; a perda da primeira esposa do sindicalista, grávida de oito meses (a criança também morreu), e a prisão, por motivos políticos, de um dos irmãos de Lula." "Faremos um filme com muito drama e alguns lances de suspense, centrado na vida de criança pobre do Nordeste brasileiro, que migra com a família para o Sul, vive adolescência humilde, torna-se militante sindical e, um dia chega à Presidência da República. Só que essa parte (a da eleição) terá pouquíssimo espaço no filme", reforça Denise. Documentários - O cineasta Eduardo Coutinho, por sua vez esclareceu -- em debate promovido pela Mostra BR de Cinema, no Espaço Unibanco, em São Paulo -- que o projeto, desenvolvido por ele e pelo diretor João Moreira Salles para a produtora Videofilmes (a mesma de Central do Brasil), no ABC paulista, resultará em dois longas-metragens. Inicialmente, a dupla planejava realizar um único longa sobre a campanha eleitoral, com os candidatos José Serra e Luiz Inácio Lula da Silva. Depois, optou por um diário de campanha do candidato Lula. Enquanto João, diretor do seminal Notícias de uma Guerra Particular (em parceria com Kátia Lund), acompanhava o candidato País afora, Coutinho procurava no ABC paulista - tendo São Bernardo como base - os companheiros do ex-presidente do Sindicato dos Metalúrgicos. Um dos colegas do metalúrgico Lula foi encontrado no Nordeste. Depois de muita troca de idéias, Coutinho e Moreira Salles decidiram realizar dois documentários (com média de 90 minutos cada um) separando o diário de campanha da busca dos ex-companheiros do metalúrgico que chegou à Presidência. "Farei um documentário com estrutura semelhante à de Cabra Marcado para Morrer, diz Coutinho, que no dia 22 lança seu novo longa, Edifício Master. Cabra fazia um registro da busca empreendida por d. Elizabeth, viúva de João Pedro Teixeira, líder das Ligas Camponesas, para encontrar os dez filhos espalhados pelo País; um estava em Cuba. Além de reunir a família de Teixeira, assassinado em Sapé, na Paraíba (em 1962), Coutinho traçou painel do Brasil do período militar (1964-1984). Agora, ele prepara painel do Brasil das greves operárias de 1979/80 até a eleição de Lula, no dia 27. Mas avisa que "nem sabe" se o presidente eleito aparecerá no filme. "Só o Lula metalúrgico e, mesmo assim, na medida em que fotos ou filmes de arquivo o mostrarem na companhia dos outros metalúrgicos, que localizamos e filmamos nestes últimos meses." Coutinho não tem pressa. Promete consumir muitos meses na pesquisa iconográfica e cinematográfica do ABC metalúrgico do fim dos anos 70, de forma que possa montar documentário denso e revelador. Quem também filmou o processo eleitoral foi Eryk Rocha, filho de Glauber. Eryk colheu imagens no primeiro e segundo turnos da eleição, ouviu dezenas de depoimentos de eleitores comuns sobre política e, agora, prepara-se para filmar a posse de Lula. Se depender da vontade do jovem cineasta, o filme estará pronto dentro de quatro meses. E será o primeiro a chegar às telas brasileiras. Editoras - Enquanto Denise Paraná prepara seu filme, os futuros espectadores podem procurar exemplares de seu livro que ainda restem da edição da Xamã ou aguardar a segunda edição, que deverá chegar ao mercado, revista e ampliada, na semana anterior à posse (fim de dezembro) pela Editora da Fundação Perseu Abramo). O Filho do Brasil, da Xamã, é um alentado volume de 476 páginas, que custa R$ 36,00 e já vendeu 2 mil exemplares. "Se, com a eleição de Lula, a demanda por novos exemplares for grande, temos condições de colocar nova edição nas livrarias em 20 dias", declara o editor Expedito Correia. Denise Paraná garante, porém, que "a Xamã perdeu, na Justiça, os direitos sobre o livro" e que a nova edição, com mais de 500 páginas, estará sob responsabilidade exclusiva da Fundação Perseu Abramo. Na edição que deverá sair pela Perseu Abramo, a capa será trocada. Em vez de Lula criança, entrará imagem de Luiz Inácio em campanha eleitoral pela Presidência.

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