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Toscan du Plantier leva "A Flauta Mágica" ao cinema

Chefão da Agência de Cinema da França já produziu oito adaptações de óperas para o cinema. Para filmar a obra de Mozart, o produtor convocou a diretora Coline Serreau

Por Agencia Estado
Atualização:

Todo-poderoso patrão da Unifrance, a Agência Nacional de Cinema da França, Daniel Toscan du Plantier encontra-se com o repórter do Estado para falar sobre cinema e ópera. Ele produziu oito filmes adaptados de óperas. O primeiro: Don Giovanni, de Joseph Losey, baseado em Mozart. O último: Tosca, de Benoit Jacquot, com origem na ópera de Giacomo Puccini. É preciso colocar esse "último" entre aspas, substituí-lo pelo "mais recente". Pois Toscan du Plantier já tem engatilhado seu novo filme de ópera. Será uma nova versão de A Flauta Mágica, também de Mozart. Nos anos 1970, Ingmar Bergman transpôs A Flauta para o cinema. "As condições técnicas não eram ideais, o som era deficiente e por isso mesmo o filme não sai em DVD. Esses defeitos ficariam muito mais evidentes", explica Toscan du Plantier. Ele quer fazer uma Flauta Mágica para crianças, explorando todo o maravilhoso da criação mozartiana. Já tem até a diretora: Coline Serreau, de Três Homens e Um Bebê. Pode parecer uma escolha surpreendente, mas todas as escolhas de Toscan du Plantier para dirigir seus filmes de óperas são assim. Sua idéia de promover o casamento entre ópera e cinema não se apóia em concepções acadêmicas. Ele busca em primeiro lugar grandes diretores, o que significa que Franco Zeffirelli não tem a menor chance de dirigir algum filme de ópera de Toscan du Plantier. "O que ele faz é idiota", diz o produtor. "Franco carrega na emoção, quando para transpor a ópera para o cinema precisamos de um movimento inverso." Foi uma regra que ele aprendeu trabalhando com Roberto Rossellini, que lhe dizia: "No cinema, é preciso resfriar a emoção." Essa lição ele a aplicou principalmente nos filmes de ópera. Chamou Losey para Don Giovanni porque queria ver como ele usaria seus conceitos brechtianos de distanciamento para filmar o universo musical de Mozart. Quis Benoit Jacquot porque achava que a frieza do cineasta seria perfeita para uma ópera tão carregada quanto a Tosca. Mesmo assim, Jacquot surpreendeu-o: "Ele fez da Tosca uma tragédia maravilhosa; isso já está lá na essência da obra de Puccini, feita de violência. Benoit apenas ressaltou a tragédia grega em Puccini", diz. Talvez pela origem italiana, ele acha que a Itália é o berço da cultura no mundo, mesmo que o seu cinema hoje em dia não esteja dos melhores (e Toscan du Plantier ri da própria piada). O repórter o contradiz, diz que o berço mesmo é a Grécia. Ele concorda: "Sim, os gregos inventaram, mas os italianos aprimoraram." Ele ama seus oito filmes de óperas. Tem um carinho especial por outros quatro: Carmen, de Francesco Rosi; La Bohème, de Luigi Comencini; Um Boris Godunov, que ele ia fazer com Andrei Tarkovski, mas o diretor russo morreu e foi substituído pelo polonês Andrzej Zulawski; e Madame Butterfly, dirigido por Fréderic Mittérrand. Toscan du Plantier anuncia a boa nova. Vai lançar esse ano uma coleção com todos esses filmes em DVD. "Vai ser meu presente para os melômanos e para os cinéfilos", explica. Diz que apesar do seu amor pelo cinema e pela ópera, nunca se arriscou a dirigir ele mesmo um filme sobre o assunto. Assim como jamais fará um filme de ópera com Zeffirelli, também não teria feito com Luchino Visconti. Acha que a contribuição de Visconti para a revitalização da ópera foi fundamental. "Ele reinventou o jogo dramático da interpretação, tirou a ópera do mofo e lhe deu feição moderna que ninguém pode ignorar." Explica seu ponto de vista: "Chegamos à mesma conclusão por vias opostas. Eu acho que para fazer bom cinema a partir de ópera temos de fugir dos especialistas. Visconti, pelo contrário, achava que era possível verter uma ópera para o cinema porque a ópera exige o cerimonial, tem de ser interpretada ao vivo. Mas, claro, essa é uma postura de aristocrata milanês". Brasil - Poderia ficar falando durante horas sobre cinema e ópera, mas como organizador do Encontro do Cinema Francês, em Paris, tem muitas coisas para resolver. Desculpa-se de que o tempo da entrevista esteja chegando ao fim. O repórter sabe do interesse de Toscan du Plantier pelo Brasil. Quando presidia a Gaumont, uma importante empresa de produção e distribuição, seu amigo Jean-Gabriel Albicocco viajou para o Brasil e criou a distribuidora Belas Artes e o circuito Belas Artes. Toscan está mesmo interessado em encontrar-se com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e seu ministro da Cultura, Gilberto Gil? Ele confirma, absolutamente. Acha que a experiência francesa é única, em todo o mundo. "Ninguém resiste tanto à hegemonia americana e não apenas no cinema", resume. Acha que a França tem lições sobre resistência cultural e atitudes alternativas que poderão servir ao Brasil. "Podemos criar uma frente, desenvolver programas comuns", diz. Pede, por favor, que o repórter coloque isso no jornal. "Acompanhamos com todo interesse a realização do Fórum Mundial Social de Porto Alegre. Se houver interesse do governo ou mesmo de entidades brasileiras em conversar conosco é só chamar. Iremos correndo." O repórter viajou a convite da Unifrance

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