PUBLICIDADE

Tom Cruise à disposição de Kubrick

Em De Olhos bem Fechados, Cruise arriscou sua posição de maior bilheteria do cinema americano e ficou três anos à disposição de do diretor

Por Agencia Estado
Atualização:

Foram os dois melhores filmes lançados no ano passado, no País: Tudo sobre Minha Mãe e De Olhos bem Fechados. O de Pedro Almodóvar, premiado com o Oscar de melhor filme estrangeiro, já está nas locadoras. O de Stanley Kubrick só agora chega às lojas mais próximas de você, porque a família do cineasta teve de aprovar todas as cenas da versão para a telinha. A questão é saber se Tom Cruise, um dos astros preferidos do público de vídeo, terá força para colocar entre os mais retirados o opus final de um dos mais exigentes diretores que já trabalharam no cinema. De Olhos bem Fechados foi recebido com entusiasmo pela maioria da crítica, mas na bilheteria o sucesso foi bem mais modesto. Nenhuma surpresa. Apesar de todo o destaque que a morte do diretor, em março do ano passado, garantiu a seu filme na mídia, De Olhos bem Fechados está longe de ser um veículo para Cruise. O público gosta de vê-lo em Missão Impossível, em Jerry Maguire. Em De Olhos bem Fechados, Cruise aceitou o desafio de ser veículo para a expressão do gênio de Kubrick. Arriscou sua posição de maior bilheteria do cinema americano - o ranking conta sempre o desempenho dos últimos filmes -, ficando quase três anos à disposição do grande autor. Foi o tempo que demorou a produção, dos preparativos à edição, até mesmo com a rodagem de diversas cenas, depois que Jennifer Jason Leigh foi deletada do elenco. No Oscar deste ano, De Olhos bem Fechados terminou sendo um dos grandes esquecidos. Não ganhou uma (nenhuma!) indicação para os prêmios da academia. Pior para Hollywood, que inscreveu Kubrick na relação das figuras lendárias que nunca receberam o Oscar. Alfred Hitchcock e Charles Chaplin entre os diretores (o segundo recebeu só um prêmio honorário), Greta Garbo entre as atrizes, nunca foram premiados. Em compensação, Beleza Americana foi coberto de prêmios e o diretor Sam Mendes comparado a Orson Welles. Isso é Hollywood. Kubrick foi um dos grandes revolucionários da linguagem. Ousou, como poucos diretores, e criou filmes definitivos, verdadeiras obras-primas de diversos gêneros. Muita gente ficou surpresa quando ele anunciou que ia adaptar a novela de Arthur Schnitzler. O próprio roteirista Frederic Raphael duvidava do acerto de Kubrick, quando ele resolveu atualizar o original, que se passa em Viena, no começo do século. Raphael achava que o relacionamento homem-mulher havia evoluído tanto que trazer para o presente o olhar de Schnitzler sobre o casal iria ressaltar a defasagem. Kubrick perguntava "Será?" e insistia na atualização.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.