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'Todos Contra Zucker' mostra embate entre os diferentes

Filme é dirigido por Dani Levy e fala de dois irmãos que precisam se reconciliar para ganhar quantia de dinheiro

Foto do author Luiz Zanin Oricchio
Por Luiz Zanin Oricchio
Atualização:

Todos Contra Zucker tem o sabor do antigo - e sempre bom - humor judaico. Quer dizer, cheio de ironia fina, insinuações e um senso crítico (e autocrático) aguçado. O filme é dirigido pelo suíço Dani Levy e fala de dois irmãos que precisam se reconciliar para botar a mão numa grana.   Veja também: Trailer de 'Todos Contra Zucker'    Quem são eles? Jack Zucker (Henry Hübschen), jornalista da ex-Alemanha Oriental, que faz aquele tipo virador; se fosse brasileiro, diríamos que é chegado ao jeitinho. O outro é Samuel (Udo Samel), ortodoxo como rótulo de Maizena, e que morou do outro lado do Muro, na Alemanha Ocidental. Sempre brigaram por tudo, e até mesmo porque um tem simpatias comunistas e outro é ferrenho capitalista. Pararam de se falar e assim seguiriam, provavelmente, até a tumba, não fosse o falecimento da mãe e o testamento por ela deixado. Eles só teriam direito à herança se convivessem durante algum tempo e acertassem suas diferenças.   A situação criada é uma das mais exploradas da história do cinema - o embate entre os diferentes. No caso, uma convivência forçada e das mais engraçadas, mesmo porque o Zucker malandro está empenhado em um torneio de bilhar, que espera vencer para levantar 100 mil e saldar dívidas. É uma boa nota. Só que o torneio está acontecendo durante as cerimônias fúnebres da mãe, e Zucker não pode se ausentar. A não ser ao custo de mais expedientes.   Claro que, numa comédia como essa, o sentido crítico é fundamental. Passa, entre os irmãos, uma ácida discussão sobre velhos embates entre capitalismo e comunismo. Nem um nem outro "vence", no sentido convencional, mesmo porque um deles é malandro demais para ser confiável e, o outro, rígido em excesso para ser levado a sério. Faz parte da comédia - e da caricatura - exacerbar traços para torná-los mais visíveis.   O que, no fundo, os dois irmãos têm em comum é a disposição de topar tudo por dinheiro, traço humano que possivelmente data de quando as primeiras moedas foram cunhadas mas, claro, se aprofundou em nossa época, este século 21 que começa, para valer, em 1989.   Como bom filme judaico, este mexe também consigo mesmo, na melhor linha autocrítica, quando, por exemplo, mostra que a intolerância de um rabino na interpretação dos fatos esconde também o seu interesse material. É que, em caso de impasse, a herança da matriarca passaria automaticamente para a congregação. Nesse ambiente em que todos tentam enganar a todos, muitas verdades são ditas. E ditas com leveza, pois mostra um mundo em que todos têm suas fraquezas mas, nem por isso, são más pessoas. Enfim, uma boa comédia serve um pouco como antídoto para o ambiente moralista que é outra das características do nosso tempo. Todos lutam contra todos sem levar em conta a ética, mas cada qual se acha dono da moral e da razão. O efeito cômico ajuda a relativizar essa hipocrisia social consentida.

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