CANNES - Foi uma manhã bem movimentada aqui no 70.º Festival de Cannes. Começou com Wonderstruck, que Todd Haynes adaptou de um livro de Brian Selnick, o autor de A Invenção de Hugo Cabret, já filmado por Martin Scorsese. Impossível imaginar filme mais diferente de A Espada do Imortal, de Takashi Miike, que passou na sequência. Um 'feel good movie', que deixa o espectador num alto-astral, e o outro sanguinolento. Samurai – o herói empunha a espada, deixa um campo de batalha com mais de cem mortos e está pronto para outra rodada.
Wonderstruck é sobre duas crianças, uma em 1927 e a outra, em 77. O que uma história tem a ver com a outra? Tem, e é o que importa. Cuidado com o spoiler. As crianças são surdas. A parte de 1927 reproduz um filme mudo, com pouquíssimos diálogos. A de 77 segue com poucas falas, mas você pode acreditar que se articulam, e lindamente. Todd Haynes veio, a rigor, dizer o que já sabemos. Todos seus filmes são de época, e esse, duplamente. E a vantagem de se ter uma atriz como Julianne Moore, presente nas duas partes, é que ela pode fazer não importa o quê. É só pedir.
Takashi Miike fez o que não deixa de ser o Bravura Indômita de sabre. Garota contrata samurai para vingar os pais. Miike também veio dizer o que já sabemos – que adora encenar cenas de violência. O aspecto fantástico da trama não é propriamente uma novidade em seu cinema, mas o herói é imortal. Os inimigos arrancam-lhe os pedaços e ele, como camaleão, se regenera. À sua maneira, Miike é um mestre. Não só diverte mas projeta uma visão sombria da humanidade. A Espada do Imortal passa fora de concurso. A diversidade faz parte da essência de Cannes.