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Tim Burton aposta mais na diversidade do que no 3D

Para o presidente do júri do Festival de Cannes e diretor de 'Alice', o 3D é apenas uma ferramenta

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Por Redação
Atualização:

Luiz Carlos Merten, enviado especial

 

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CANNES - É um dos cargos mais honoríficos da França. Principalmente quando o presidente do júri de Cannes é um norte-americano, a impressão é de que ele está presidindo a França. Clint Eastwood montou o seu Eliseu numa Villa nas montanhas que circundam a cidade. Tim Burton preferiu se instalar no alto do Hotel Carlton, na Croisette. Ele não leva jeito para imperador nem para juiz. Em vez de júri, prefere referir-se aos colegas como "grupo".

 

 

"Não estamos aqui para julgar, não somos juízes", sentenciou. O que ele quer, o que todos querem "é ser surpreendidos". O corpo de jurados inclui atores e atrizes (Benicio Del Toro, Kate Beckinsale e Vittoria Mezzogiorno). Além do presidente, cineastas: o anglo-indiano Shekhar Kapoor e o espanhol Victor Erice. Na apresentação do júri, ao falar sobre Erice, o meneur du jeu Henri Behar lembrou O Espírito da Colmeia, que definiu como um filme que até hoje nos assombra. Tim Burton balançou a cabeça em sinal de aprovação e puxou os aplausos.

 

Embora tenha feito Alice no País das Maravilhas para ser projetado em 3-D, Burton não supervaloriza o efeito Avatar. Ele não acha que o futuro do cinema é 3-D. Cannes já mostrou filmes em três dimensões no passado (o mais recente foi Up - Altas Aventuras). Este ano, nenhum dos filmes de autor da competição recorre à ferramenta - para ele, o 3-D é apenas isso, "a tool", como a cor ou a cenografia. O importante é sempre o uso que o diretor faz das suas ferramentas. "Não acredito numa só forma de cinema. A grandeza do festival está na diversidade que oferece."

 

Como animador, Burton lembrou que o início da computação gráfica decretou a morte do desenhista profissional. "Hoje em dia, as coisas se acomodaram e voltamos ao desenho tradicional." Com a nova etapa da terceira dimensão, consolidada com o megassucesso de Avatar, ele espera que ocorra a mesma coisa.

 

Não faltaram as tradicionais perguntas sobre a reduzida participação das mulheres num júri de tantos homens - como se, no ano passado, não tenhamos tido aqui uma presidente, e no estilo imperial, Isabelle Huppert. "Não penso desse jeito, não olho o mundo por meio dessa separação de gêneros", disse Vittoria Mezzogiorno, a bela atriz de Vincere, de Marco Bellocchio. "Estamos recém nos conhecendo, mas já deu para perceber que vai ocorrer aqui uma comunhão de sensibilidades.". Justamente as sensibilidades foram citadas pelo presidente Tim Burton.

 

Há dois anos, Sean Penn, presidindo o júri, antecipou que sua escolha seria por uma obra política. "Não estamos orientados para buscar nada, especificamente. Estamos abertos para obras de todas as origens e estilos, que nos estimulem tanto intelectual quanto emocionalmente. As escolhas serão ditadas por nossas sensibilidades", vaticinou. Eclético e interessante como é, o júri de Tim Burton tinha resposta para tudo. Victor Erice sintetizou o sentimento do grupo, repudiando a prisão de Jafar Panahi no Irã. Os jurados, na verdade, só empacaram quando perguntados sobre a Palma de Ouro preferida. Tim Burton não se lembrou de nenhuma. O compositor Alexander Desplat salvou a pátria, mas tirou sua escolha do baú - Taxi Driver, de Scorsese, em 1975 (35 anos já!).

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