Thriller de Truffaut reestréia em SP

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Por Agencia Estado
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Em plena retrospectiva de Jean-Luc Godard, no CineSesc, a distribuidora Filmes do Estação põe em outra sala da cidade um dos últimos filmes que ainda faltavam para completar a retrospectiva de outro grande do cinema francês, François Truffaut. Ambos surgiram na nouvelle vague. Trilharam caminhos distintos e até opostos. De amigos, viraram inimigos. Triste fim de história para os diretores que foram parceiros em Acossado, Godard assinando a direção, Truffaut com crédito no argumento (que nos filmes do maior revolucionário do cinema nunca foram o mais importante). Veja Godard, mas veja também A Sereia do Mississipi, com o godardiano Jean-Paul Belmondo e a bela Catherine Deneuve, mais gélida do que nunca. Godard hoje, Truffaut ontem. Filmes do Estação apresentou, há dois ou três anos, uma grande retrospectiva do diretor e depois foi repondo seus filmes em cartaz. Alguns fizeram tanto sucesso - caso de A Mulher do Lado, que permaneceu meses em cartaz -, que terminam surpreendendo a própria distribuidora do grupo Estação, do Rio. Em A Sereia do Mississipi, Catherine se chama Marion e atende ao anúncio que o personagem de Belmondo colocou no jornal, procurando uma esposa. O título vem do barco que a traz, mas no livro de William Irish possui outras implicações. Marion tem rosto de anjo, mas seu passado é de demônio. Possui extensa ficha criminal. Arruína a vida do homem. Na cena decisiva do filme, Belmondo espia por uma janela e vê uma família reunida. É o tipo do mundo ao qual ele renunciou ao envolver-se com a sedutora (e destrutiva) sereia. Hitchcockmaníaco - escreveu o livro Le Cinéma selon Hitchcock, lançado no Brasil como Hitchcock-Truffaut -, François nunca se saiu muito bem nos thrillers, que compõem uma vertente reduzida de sua obra. Atirem no Pianista agrada a pouca gente e A Noiva Estava de Preto talvez seja mais aldrichiano do que hitchcockiano, mas essa é uma característica que só vai interessar aos cinéfilos mais renitentes (e aos fãs do grande Bob Aldrich, em particular). De Repente num Domingo possui certo charme, mas sua falta de ambição, digamos assim, proporcionou um fecho insatisfatório para a carreira de Truffaut, quando ele morreu precocemente de câncer, em 1984, aos 52 anos. Romântico que desconfiava do romantismo, amante das mulheres ternas e cruéis, Truffaut talvez tenha sido, acima de tudo, um pequeno burguês. Sua origem, a infância abandonada, tudo o orientava para a busca de uma estabilidade que uma personagem como Marion, num filme como A Sereia do Mississipi, subverte. Na vida, também foi assim. Truffaut apaixonou-se por Catherine, quase pirou quando ela lhe deu o fora. Nesse sentido, é um filme importante, que pede revisão, mesmo que Truffaut, em suas fantasias hitchcockianas, nunca tenha conseguido transformar o medo na experiência densa e angustiante de que ele se reveste no cinema segundo Alfred. A Sereia do Mississipi (La Siréne du Mississipi). Drama. Direção de François Truffaut. Fr/69. Duração: 120 minutos. 12 anos.

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