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Thriller "A Cartada Final" destila cultura do ódio

Filme de Frank Oz estréia amanhã. Conta com elenco de primeira, Marlon Brando, de Robert De Niro e Edward Norton, mas peca por difundir a cultura do arrivismo

Por Agencia Estado
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É um thriller bem-feito e tanto mais surpreendente porque assinado por Frank Oz. O diretor de A Cartada Final começou em dupla com Jim Henson, criador do Muppet Show. Fez depois A Pequena Loja de Horrores e Os Safados, definindo sua preferência por um humor no limite do deboche. A Cartada Final revela uma energia insuspeitada em Oz. Mas ao mesmo tempo que possui essa qualidade, o filme também é abominável por sua ideologia. Claro, é pouco provável que os espectadores em busca de diversão procurem ver a dimensão política de um filme desses. O público vai ver A Cartada Final por causa de Marlon Brando, de Robert De Niro e Edward Norton. Representam três gerações de atores americanos. Talvez sejam os melhores de cada uma delas. Brando virou mito nos anos 50 vestindo a T-shirt de Kowalski em Uma Rua Chamada Pecado ou montado na motocicleta de O Selvagem. Os anos 60 foram ruins para ele, que assistiu ao declínio do seu mito fazendo mais filmes ruins do que o público podia agüentar, mas Brando ressurgiu espetacularmente no começo dos 70 como o poderoso Don Corleone do Chefão ou o desiludido protagonista de Último Tango em Paris. Brando engordou, perdeu a forma, deixou de ser um mito sexual sem perder o carisma. Há quem o considere o maior ator do cinema. Não é uma definição despropositada. De Niro também é gênio em sua associação com Martin Scorsese, se bem que sua criação nesse filme está mais próxima de 15 Minutos e aí é melhor tomar distância com ele. Quanto a Edward Norton, como duvidar do seu talento depois de O Povo contra Larry Flint e O Clube da Luta? Os atores não são o problema de A Cartada Final, mesmo que Brando, podado pelo diretor, represente o mínimo e termine compensando os excessos de De Niro e Norton. Os três, na verdade, passeiam pelos personagens, formatados para eles. O problema, mesmo, é de outra ordem. É de concepção. É a história de um profissional cooptado por um agenciador para um golpe que só ele poderá executar. Há um jovem em cena. O antagonismo com o veterano é imediato. A idéia do assalto perfeito aproxima A Cartada Final de Rififi, de Jules Dassin, que teve várias imitações, incluindo a do próprio diretor daquele clássico (Topkapi). O problema é a cultura do ódio que esse filme destila. O novato quer dar o golpe dentro do golpe, o veterano é um profissional que não dorme em serviço. Essa cultura do arrivismo e do profissionalismo, do ódio que Hollywood tanto celebra ganha um significado assustador após o fatídico 11 de setembro. Robert Altman já disse que nenhum terrorista se atreveria a um gesto daqueles se Hollywood não ensinasse o caminho das pedras. A imprensa americana o considera, por isso, o inimigo na trincheira. É apenas lúcido. Veja A Cartada Final por esse ângulo. É deprimente. A Cartada Final (The Score). Drama. Direção de Frank Oz. EUA/2001. Duração: 124 minutos.

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