Terras de Neruda

Localizada no extremo sul do país, reserva natural de Huilo Huilo mantém a mesma paisagem de 'águas claras e prado verde' descrita pelo poeta quase 40 anos atrás

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Por Redação
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Harmonia. Admire sem pressa os detalhes da mata nativa do entorno. Foto: Divulgação

 

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Como se tivessem algum tipo de instinto protetor, generosas montanhas cobertas por bosques nativos abraçam a água cristalina. Pássaros na margem completam o quadro de natureza intocada. Só levantam voo quando o ruído do motor do barco quebra o silêncio do ambiente. De origem glaciar, incrustado em meio aos Andes Patagônicos do sul do Chile, o Lago Pirehueico é a menina dos olhos do parque natural Huilo Huilo.

A área, que em 2007 recebeu da Unesco o título de reserva mundial da biosfera, era considerada sagrada pelo povo mapuche, os ancestrais da região, e ainda é chamada de mágica pelos moradores atuais. Segundo eles, este é um dos poucos cantos do mundo onde a vida consegue se desenvolver em seu ritmo natural, preservando espécies raras de plantas, pássaros e outros animais. A paisagem verde que se estende em todas as direções segue intacta e quase inexplorada - a região só ganhou algum destaque em 1971, pela voz do poeta Pablo Neruda.

Naquele ano, quando foi vencedor do Prêmio Nobel de Literatura, o poeta começou sua fala com um aviso. "Meu discurso será uma longa travessia, uma viagem minha por regiões longínquas e antípodas, não por isso menos semelhantes à paisagem e às solidões do norte. Falo do extremo sul de meu país." Neruda reservava detalhes das experiências vividas em Huilo Huilo. Durante dois anos (de 1947 a 1949), ele se viu obrigado a viver na clandestinidade e, com alguns amigos, foi e voltou pelas florestas inexploradas, ainda desconhecidas de seus olhos.

 

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Comprovando que o efeito do tempo é quase nulo por ali, suas palavras continuam descrevendo com perfeição o cenário que o turista encontra quando se mistura aos 60 mil hectares de floresta nativa da reserva. "... Água clara, prado verde, flores silvestres, rumor de rios e o céu azul em cima, generosa luz ininterrompida por nenhuma folhagem." A sensação que seu grupo teve diante de tal paisagem se assemelha à provocada ainda hoje. "Ali nos detivemos como dentro de um círculo mágico, como hóspedes de um recinto sagrado."

 

Ao ar livre. Caminhada é uma das opções, mas exige preparo físico. Foto: Divulgação

 

Entre "hermanos".

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A grande chance do turista se integrar às belezas naturais de Huilo Huilo surge durante a travessia do Lago Pirehueico, que leva até a fronteira com a Argentina. O percurso dura uma hora e meia e é feito por uma grande balsa. Torça para o tempo ajudar: em dias claros, o sol reflete na água a sombra dos morros esverdeados e o vento (o mais puro que se possa imaginar) que bate no rosto completa a sensação de liberdade.

Um alerta natural avisa que o destino se aproxima. A exatamente 30 minutos do porto é possível avistar uma exuberante montanha com o pico branquinho, todo coberto de neve, que já pertence ao país vizinho.

Do lado de lá, a balsa é substituída por um ônibus que tem pela frente 50 quilômetros de estrada de terra. A graça dessa parte do passeio é o comprido Lago Lácar, delimitado por montanhas escarpadas interrompidas por pequenas prainhas, e que acompanha toda a estreita via. Chega-se, então, à pequena San Martín de Los Andes, com charmosa arquitetura em madeira e casas especializadas em waffles e chocolate (leia mais abaixo).

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Se o discurso de Neruda atraiu o olhar turístico para a região do Pirehueico, esta área do país hermano ganhou atenção depois que Che Guevara falou dela. Em 1952, quando se aventurou pela América Latina montado em sua motocicleta La Poderosa, Che passou por ali e, encantado, ainda previu o potencial turístico do lugar. "San Martín fica nos declives verde-amarelados que terminam nas profundezas azuis do Lago Lácar, uma poça de água com 500 metros de largura e 35 quilômetros de comprimento. Os problemas de clima e transporte da cidade serão resolvidos no dia em que ela for "descoberta" como um paraíso turístico", apostou

 

 

 

ARQUITETURA ALPINA E GULOSEIMAS NA TURÍSTICA SAN MARTÍN DE LOS ANDES

 

É difícil encontrar uma casa sem um colorido jardim na frente e delicadas janelas de madeira que dão vista para a rua. Em San Martín de Los Andes, já na Argentina, a arquitetura alpina reina e confere um charme todo especial à cidadezinha que hoje vive do turismo.

 

Ao lado do Cerro Chapelco e a 250 quilômetros de Bariloche, o vilarejo está dentro do Parque Nacional Lanín, na província de Neuquén, e tem atraído os turistas acostumados a passar férias de inverno na região. Como alternativa aos esportes de neve, eles encontram as águas límpidas e calmas do Lago Lácar, atração principal do local. Passeios de barco saem diariamente da área costeira e seguem até a nascente do rio Hua Hum, margeando algumas ilhotas e tendo no fundo cadeias de montanhas cobertas por uma vegetação amarelada.

 

Se a temperatura não estiver lá embaixo, vale alugar uma bicicleta para aproveitar a paisagem - não deixe de fotografar o belo pôr do sol.

 

A maioria das atrações urbanas se concentram na Calle San Martín, a mais extensa rua da cidade, que termina no acesso ao lago. Ali, prédios altos são proibidos e as construções comerciais seguem a preferência pelos materiais naturais: são feitas de madeira ou pedra.

 

Galerias com lojas de artesanato, cerâmica e chocolates convivem com os aconchegantes cafés e restaurantes. Aliás, San Martín já fez fama pela culinária de alto nível. Há opções para quem não dispensa uma clássica parrillada ou massas tradicionais. Casas especializadas em panquecas e waffles esbanjam delícias para serem degustadas no café da manhã.

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Hospedagem. Para os mais exigentes, há hotéis cinco estrelas que oferecem todo o conforto. As cabañas combinam serviços tradicionais de hotelaria em um ambiente caseiro. E os mochileiros costumam optar por uma das opções de albergues. Mais: www.sanmartindelosandes.gov.ar/turismo.

 

 

* A repórter viajou a convite do Sernatur e Huilo Huilo Turismo

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