Tentando um Oscar, 'Salve Geral' retrata ataques do PCC

Diretor Sérgio Rezende considera episódio de maio de 2006 como o '11 de setembro' de São Paulo

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Por Redação
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"Salve Geral", que estreia nesta sexta-feira, 2, em circuito nacional, trata de forma ficcional um episódio real da história recente do Brasil, a exemplo de "Carandiru" (2002) e "Próxima Parada 174" (2007). Curiosamente, esses três filmes foram selecionados para representar o Brasil na disputa pelo Oscar de melhor filme estrangeiro, nos seus respectivos anos.

 

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Trailer de "Salve Geral - o dia em que São Paulo parou"Dirigido por Sergio Rezende ("Zuzu Angel") a partir de um roteiro assinado por ele e Patrícia Andrade ("2 Filhos de Francisco"), "Salve Geral" vai buscar a sua razão de ser nos ataques realizados pelo PCC, em São Paulo, em maio de 2006. O diretor comentou, em mais de uma ocasião, que esse episódio é o 11 de Setembro da capital paulista, pois não apenas aterrorizou como mudou a vida dos habitantes da cidade. Aqui, os ataques são um pano de fundo romantizado - quem estava em São Paulo naqueles dias quando policiais e civis foram assassinados, delegacias, lojas, agências bancárias depredadas e ônibus incendiados vai pensar que "Salve Geral" é a ficção simplificada da realidade. Não se espera um documentário de um drama, mas alguma verdade estampada na tela traria ao filme um pouco da força de que necessita. Esse é um filme feito por pessoas que viram pela televisão como tudo aconteceu , mas não estavam em São Paulo. Por isso, a reconstrução não se parece em nada com o caos e o pânico que se instalaram na cidade. Detalhes apontam para a falta de atenção da produção. Num momento, a personagem Lúcia (Andrea Beltrão) cruza uma Avenida Paulista deserta, em plena tarde do domingo do Dia das Mães. Ao fundo é possível ver detalhes da decoração de fim de ano na fachada de um famoso conjunto comercial da cidade. São deslizes que transformarão o filme numa piada pronta para qualquer pessoa que estava na cidade naqueles dias de maio de 2006. Outro problema de "Salve Geral" é a falta de foco. Ora ele é a história de Lúcia, ora é a história de membros do crime organizado, dentro e fora dos presídios. O filme segue numa crise de identidade com duas linhas narrativas frouxas. Às vezes, mergulhamos no submundo com a ajuda da protagonista, cujo filho, Rafa (o estreante Lee Thalor), foi preso em maio de 2005, depois de matar acidentalmente uma pessoa. Seria mais interessante entrar no filme pelos olhos de Lúcia, mãe de classe média jogada na realidade dos presídios e do mundo que ela desconhecia. Toda a descoberta da personagem seria também nossa, ficaríamos horrorizados como ela, ao ver aquilo tudo que só conhecia pelas notícias. Mas "Salve Geral" também quer dar conta dos bastidores do poder - o oficial e também daquele que rege as facções criminosas. Vemos - mas Lúcia não - disputa pelo comando, traições dentro do próprio grupo, execuções e manipulações. Temos mais informação que a protagonista, mas isso não ajuda muito o longa a criar uma tensão, pois as ações soam calculadas e calculistas apenas por razões narrativas. Numa das visitas ao filho, Lúcia conhece uma advogada chamada apenas de Ruiva (Denise Weinberg), que trabalha para a facção criminosa cujos líderes estão encarcerados. Figura ambígua, essa advogada sempre falastrona e pragmática faz de Lúcia sua cúmplice involuntária. Quando a protagonista realmente dá por si, ela já faz parte da facção levando e trazendo recados para presos e se tornando amante de um dos líderes, conhecido como Professor (Bruno Perillo). Essa narrativa caminha em passos truncados até o clímax, no Dia das Mães de 2006, quando acontecem os ataques a São Paulo. Muita coisa no filme parece depender da boa vontade do público em aceitar ações sem muita veracidade. É até fácil entender a forma como o Professor seduz Lúcia jogando seu charme, uma fala doce e dando a atenção que falta à vida da personagem, mas a forma como ela se entrega soa mais como uma manobra de roteiro negando à personagem sua dignidade. Já os presídios de "Salve Geral" não se parecem com aqueles que vemos todos os dias nos noticiários. Ao longo de sua carreira de quase 30 anos, Rezende fez diversas ficções baseadas em fatos e/ou personagens reais - as mais conhecidas são "O Homem da Capa Preta" (1986), "Lamarca" (1994) e recentemente "Zuzu Angel" (2006). Em comum, todos têm interpretações primorosas de seus protagonistas, José Wilker, Paulo Betti e Patricia Pillar, respectivamente. Em "Salve Geral", não é diferente. Andrea Beltrão e Denise Weinberg são o grande atrativo. Até o momento, se "Salve Geral" tem ou não chance de uma indicação ao Oscar é pura especulação. O filme depende muito de lobby e uma campanha forte nos Estados Unidos. Até fevereiro do próximo ano, quando saem as indicações, o filme poderá ser lembrado como aquela ficção livremente inspirada num fato real. Alysson Oliveira, do Cineweb.

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