Após uma faxina de alta tecnologia, a sátira de Charles Chaplin sobre o progresso e a industrialização no século 20 está de volta em DVD. Lançado há mais de seis décadas, Tempos Modernos passou por um processo de restauro quadro a quadro para ganhar uma impressionante versão no formato digital. O resultado poderá ser conferido no encerramento do Festival de Cannes. A cuidadosa recuperação foi feita quadro a quadro - mais de 126 mil. E impressiona. Não há marcas, e o preto-e-branco foi perfeitamente balanceado. "É como restaurar afrescos da Capela Sistina", compara Marin Karmitz, da empresa francesa que cuidou do trabalho, a MK2. "Estamos devolvendo à obra sua identidade original." Feito em 1936, Tempos Modernos é essencialmente mudo, a não ser por um diálogo enigmático em sua música (Chaplin só viria a falar no cinema em O Grande Ditador, quatro anos depois). Trata-se de uma sátira à massificação e a obsessão modernizadora da sociedade industrial. Em uma das seqüências mais conhecidas, o personagem de Chaplin testa uma nova máquina capaz de alimentar os empregados de uma fábrica durante o trabalho, para eliminar o intervalo do almoço, mas, claro, as coisas não saem como planejadas. Depois de aprontar bastante, o personagem de Chaplin acaba preso. Ao ser libertado, se vê, acidentalmente, liderando uma manifestação comunista. E ainda tem tempo de se apaixonar por uma sem-teto, papel de sua então parceira Paulette Goddard. Para empreender o restauro, a equipe da MK2 rodou o mundo em busca das cópias em melhores condições e de cada um delas selecionou os quadros mais bem preservados. A partir daí, começou o tratamento quadro a quadro, para posterior digitalização. Finalmente, foram produzidas cópias em 35 mm, para exibição nos cinemas. A versão em DVD chega ao mercado mundial em julho. A MK2 está recuperando dez obras de Chaplin. As novas versões serão lançadas em DVD e também exibidas no circuito comercial, o que deve ampliar a audiência de Chaplin entre as gerações mais novas, que em grande parte não o conhecem para além de seu personagem Carlitos. É o que afirma Richard Schickel, cujo documentário Charlie: The Life and Art of Charles Chaplin foi exibido hoje, em Cannes, com presença da filha de Chaplin, Geraldine Chaplin. "As pessoas mais jovens não o conhecem direito, apenas sabem quem é porque sua imagem é muito forte."