Tempo é a estrela da Mostra de Cinema SP

A eternidade ou um dia: esse mistério ilumina alguns dos melhores filmes no evento que começa hoje e vai até dia 30

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Por Agencia Estado
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Há cinéfilos de carteirinha, aqueles que tiram férias e fazem um planejamento meticuloso para conseguir ver o maior número possível de obras. E existem os espectadores de perfil mais light, que não correm tanto, mas também querem estar antenados com o que de mais importante se produz no cinema de todo o mundo. Entre 285 filmes de longa-metragem da 27.ª Mostra BR de Cinema - Mostra Internacional de Cinema São Paulo, que tal selecionar cinco ou seis, aqueles que você não pode perder, de jeito nenhum? O tempo, não se cansam de nos dizer os artistas e os filósofos, é uma experiência relativa. Existe um tempo real, que estabelece para todo mundo a sucessão das horas, dos dias, meses e anos e a partir do qual o homem constrói as noções de passado, presente e futuro. Mas existe também um tempo subjetivo, inerente a cada um, que faz com que a eternidade e um dia sejam a mesma coisa. O tempo, real e subjetivo, vai ser a estrela da mostra. O espanhol Victor Erice precisa de apenas dez minutos para tecer o fio do tempo em seu episódio para Dez Minutos Mais Velho - O Trompete. O italiano Marco Tullio Giordana precisa de seis horas para refletir a história contemporânea de seu país em A Melhor Juventude. O episódio de Erice vai ser o melhor filme toda essa mostra? Flashes rápidos em preto-e-branco, pintura impressionante de objetos e paisagens, Lifeline - A Linha da Vida ilumina fatos que levaram àquele 28 de junho de 1940, quando os nazistas, aliados de Franco, começaram a entrar na Espanha. Giordana conta a história de dois irmãos e, por meio dela, avança desde os míticos anos 1960 até 2003. Seu filme é mais lúcido e generoso com a juventude, menos utópico em relação aos que foram revolucionários em Maio de 68 do que As Invasões Bárbaras, de Denys Arcand, que abre hoje a mostra para convidados. Elefante, de Gus Van Sant, complementa Tiros em Columbine, que tanta sensação fez na mostra do ano passado. O tema é basicamente o mesmo e Gus Van Sant, trabalhando com a ficção, consegue ser menos manipulador do que Michael Moore em seu documentário vencedor do Oscar. Outras pérolas: Anti-Herói Americano (American Splendor), de Shani Springer Berman e Robert Pulcini, usa os quadrinhos de Robert Cumb para ficcionalizar a mediocridade da vida cotidiana do protagonista. Adeus, Lênin, de Wolfgang Becker, traça um retrato fascinante da Alemanha (e do mundo) pós-comunismo. Adeus, Dragão Inn talvez seja o mais perturbador dos filmes de Tsai Ming-liang. Não existe centro narrativo. Tudo se passa num cinema decadente, onde homens se perseguem e uma mulher manca coloca o problema do tempo de forma exasperante. E chove. Se há uma metáfora em Dragão Inn, qual é mesmo? Distante (Uzak), do turco Nuri Bilge Ceylan, vai ser uma revelação. O diretor é contemplativo como Abbas Kiarostami, Theo Angelopoulos e Victor Erice. Lembra o japonês Yasujiro Ozu, que será homenageado com um livro (de Kiju Yoshida) e a exibição de alguns filmes. E as contribuições brasileiras? São muitas, mas você deve privilegiar Narradores de Javé, de Eliane Caffé.

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