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Temática política permeia indicados ao Oscar de melhor filme

Com a exceção de 'O Curioso Caso de Benjamin Button', todos têm, em certa medida, um grau de politização

Por EFE
Atualização:

Em um ano marcado por uma forte politização nos Estados Unidos devido às eleições que colocaram no poder Barack Obama, o primeiro presidente negro do país, a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas deixou essa discussão política se refletir em quatro das cinco indicações ao Oscar de Melhor Filme. Com a exceção de O Curioso Caso de Benjamin Button, todos os demais longas-metragens têm, em certa medida, um certo grau de politização, desde os filmes onde essa característica é mais evidente, como Frost/Nixon e Milk - A Voz da Igualdade, até duas produções onde o debate é levemente mais velado - O Leitor e Quem quer ser um milionário?. Nesse último filme, de Danny Boyle, considerado por muitos críticos o favorito à estatueta dourada na 81.ª edição do Oscar, há toda uma discussão política por trás da história de um jovem favelado da cidade indiana de Mumbai, por exemplo. Deixando um pouco de lado esse debate, o outrora azarão britânico, uma mistura de suspense com história de amor, vem se tornando o mais forte concorrente ao prêmio. Sua trajetória impressiona: desde que foi lançado, o longa vem ganhando os principais troféus em mostras internacionais, entre eles o Globo de Ouro, o Bafta e o Critics Choice Awards. Para o crítico de cinema Rubens Ewald Filho, a produção é o filme do momento, de tempo de crise, já que ganhou vários prêmios e faz o encontro entre Hollywood e Bollywood. Já Marcelo Hessel, um dos especialistas que escrevem para o site Omelete, afirma que o filme é um vencedor por seus próprios méritos, pois começou sem chance alguma e foi se tornando, pouco a pouco, o favorito. Além disso, para ele, os concorrentes mais fortes da produção britânica - Milk, de Gus Van Sant, e Frost/Nixon, de Ron Howard - têm temática antiga, desatualizada, por não tratarem de uma novidade ou de um assunto quente. Ambos têm em comum um debate político muito claro. O primeiro trata de uma entrevista concedida em 1977 pelo ex-presidente americano Richard Nixon ao jornalista David Frost três anos após o estouro do escândalo de Watergate, que forçou a renúncia do republicano. Já Milk conta a história de Harvey Milk, o primeiro político declaradamente homossexual a ser eleito para um cargo público na Califórnia da década de 70. No entanto, para a professora de cinema da Universidade Federal Fluminense (UFF) Marcela Amaral, nenhum dois é páreo para Quem quer ser um milionário?. A especialista destaca que a produção britânica, tanto pelo contraste social que aborda quanto pelo fato de ter como pano de fundo uma história de amor, é um favorito indiscutível. Porém, ela ressalta as qualidades de Frost/Nixon e Milk, particularmente do primeiro, que tem um bom duelo de atores e uma temática americana, o que sempre conta para a premiação. Hesse~l e Marcela também concordam que O Curioso Caso de Benjamin Button, de David Fincher, tem mais qualidades técnicas do que propriamente ficcionais, ao contar a história de um homem que nasce com a aparência de velho e, conforme amadure, vai ficando mais jovem. Além disso, o grande azarão da disputa seria O Leitor, de Stephen Daldry. Para o crítico do Omelete, o filme, sobre um jovem que se apaixona por uma mulher mais velha que depois ele descobre estar sendo julgada por crimes nazistas, foi indicado mais pela máquina publicitária por trás da produção, a cargo de um dos braços independentes da Miramax, do que por sua qualidade. Já Marcela acredita que o ponto alto do longa é o trabalho conjunto do elenco, mas a virada na história é decepcionante e a construção cronológica faz o filme se perder no tempo e no espaço. Já a estatueta de Melhor Direção deve ir parar mesmo nas mãos do britânico Danny Boyle, segundo os três especialistas consultados. No entanto, Gus Van Sant, por Milk, e Ron Howard, por Frost/Nixon, podem surpreender, sobretudo o primeiro, responsável por filmes aclamados como Paranoid Park e Elefante.

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