'Tem algo muito feroz dentro de mim, que funciona bem para Sarah Connor', diz Linda Hamilton

Após 27 anos do último filme, atriz fala do amadurecimento de sua personagem e sobre o casamento com James Cameron

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Por Kyle Buchanan
Atualização:

O filme O Exterminador do Futuro: Destino Sombrio, em cartaz nos cinemas, traz Linda Hamilton de volta ao papel de Sarah Connor pela primeira vez desde 1991, quando O Exterminador do Futuro 2 – O Julgamento Final fez dela um ícone da cultura pop. Em uma entrevista anterior, Hamilton falou sobre sua volta aos holofotes depois de começar uma vida nova em Nova Orleans, mas ela tinha muito mais a dizer sobre essa decisão, sobre sua história com a franquia Exterminador e sobre seu casamento com o diretor dos dois primeiros filmes, James Cameron. Aqui estão mais trechos editados dessa conversa.

Linda Hamilton conta que teve depressão após o primeiro filme da série 'O Exterminador do Futuro' Foto: Akasha Rabut/ The New York Times

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O primeiro Exterminador foi todo feito em sessões de filmagem noturnas, intensas e emocionalmente extenuantes. Como isso afetou você?

A noite virou minha realidade muito mais do que o dia. Era difícil para o psicológico – muito difícil mesmo. Você está sempre correndo, sem mãe, sem namorado, sem amigas, por três meses. Quando as filmagens acabaram, enfrentei uma depressão, sonhei que o Exterminador estava na casa dos meus pais.

Como foi sua relação com James Cameron no primeiro filme?

A gente não gostava nem desgostava um do outro no primeiro filme. Explodi de raiva na única vez que pedi para ver a gravação – Jim foi um dos primeiros diretores a fazer isso. Normalmente, não preciso ver nada, mas o dia tinha sido difícil, acho que eu tinha perdido um pouco da confiança e, quando pedi para ver a fita, ele disse: “Não temos tempo. Vamos em frente!”. Eu absolutamente surtei.

O que aconteceu?

Puxei o Jim para fora do set e disse: “Se você quer ver um ser humano na tela, precisa me tratar como um ser humano”. Quando as filmagens acabaram, pensei: “Bom, esse cara está do lado das máquinas”. É um cara que passa o tempo livre estudando o voo dos helicópteros, é assim que ele descansa a cabeça!

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Quando Sarah Connor se tornou uma guerreira sarada em O Exterminador do Futuro 2, isso mudou a maneira como você se relacionava com a personagem?

Sinceramente, me senti muito melhor que no primeiro filme, porque estava interpretando uma mulher empoderada. Era muito melhor que interpretar a vítima apavorada o tempo todo. Além disso, sou gentil e compassiva, mas não sou muito delicada. Eu abraçava meus filhos quando eles eram pequenos e eles faziam “ai!”. Tem algo muito feroz dentro de mim, contra o que tenho de lutar sempre, mas essa ferocidade funciona bem para Sarah Connor.

De onde vem sua ferocidade?

Lembro que, no começo da carreira, um diretor me disse: “Uau, você manda bem nessas coisas de raiva”. Meu pai morreu quando eu era criança, minha mãe ficou viúva com quatro filhos muito pequenos. Acho que ela ficou sobrecarregada. Sem dúvida, lutou contra a depressão, e nós realmente não tínhamos autorização para nos expressar. Uma vez, perguntei a ela: “Por que a gente não podia falar e expressar nossa raiva?”. E ela respondeu: “Bom, vocês eram quatro, e eu, só uma”. Acho que tive muita sorte de poder expressar minha raiva em um ambiente seguro e ainda ganhar por isso.

O que você lembra da reação a Exterminador 2?

“Os-braços-da-Linda-Hamilton”. Virou uma palavra só, e não era o efeito que eu estava procurando. Um cara chegou para mim em um posto de gasolina e disse: “Eu vi o filme! Eles bombearam ar nos seus músculos?”.

E você se aborrecia com isso?

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Passei muito tempo tentando ser outra coisa. Só usava vestido, cortava o cabelo e pintava de vermelho ou branco – qualquer coisa que não lembrasse a imagem de Sarah Connor. Sei que muitas pessoas abraçam uma personagem e ficam fazendo a mesma coisa por anos. Mas quero abrir portas diferentes. E não sempre a mesma porta!

Como você reage quando os fãs a tratam como um ícone?

Se as pessoas choram quando me veem, eu imediatamente dou o meu número de telefone para elas. Sou tipo, “oh, querida, venha aqui, vamos conversar. Aqui está o meu número”. Quero ser verdadeira com essas pessoas, e não só dizer “obrigada, foram meus momentos de glória”.

Você pensava em como Sarah Connor estaria após esses anos?

Eu ficava tipo: “E se ela estiver gorda? Não seria demais?”. Você quer surpreender o público, porque as pessoas se impressionaram com a mudança que aconteceu entre o primeiro e o segundo filmes. Também pensamos deixá-la alcoólatra, como Rooster Cogburn em Bravura Indômita, mas era algo que já tinham feito, além disso havia o problema de misturar alcoolismo com armas de fogo. 

No fim das contas, você teve que voltar à forma de lutadora por causa do filme, um regime que incluía hormônios e treinamento intenso. Como foi isso?

Contava com uma verdadeira equipe de especialistas tentando tirar o máximo proveito desse corpo, mas devo ser muito sensível aos hormônios porque, em dois meses, eu já estava mandando mensagem para meu médico às duas da manhã, ficava furiosa com qualquer coisa, minha pressão arterial estava lá em cima. Andava por aí dizendo, “quem quer cair na porrada?”. E eles ficavam adiando as filmagens!

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Os fãs querem ver Sarah arrasando na tela, mas agora ela está mais velha, então não dá para ser a mesma coisa. Como você lidou com isso?

Não quero vender a imagem de que ela continua sendo alguém que pode fazer tudo o que ela fez naquele dia, porque já se passaram 27 anos. Fiz questão de me levantar mais devagar quando ela era atingida – você não levanta com um pulo, como se tivesse 32 anos. Foi uma experiência muito mais rica trazer tudo o que tenho para essa mulher. Foi incrível. 

(Tradução de Renato Prelorentzou)

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