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Telê, de ídolo a técnico

O assobio de John Wayne em Um Fio de Esperança foi apelido do jogador e será música de abertura do documentário homônimo sobre a vida e a carreira de Telê Santana, dirigido por Ricardo Pichi e baseado na biografia escrita por André Ribeiro

Por Agencia Estado
Atualização:

- Uma música assobiada por John Wayne foi um dos principais encantos do filme Um Fio de Esperança, que William Wellman dirigiu em 1954. Um encanto tão forte que foi o título deste filme que um torcedor do Fluminense sugeriu como apelido para um dos principais jogadores do time naquela época, Telê Santana, durante um concurso promovido pelo Jornal dos Sports, do Rio de Janeiro. A sugestão foi uma das escolhidas e Telê ganhou finalmente uma alcunha que o identifica ainda hoje. Assim, é o assobio de John Wayne que deverá soar como a música de abertura de um documentário sobre a vida e a carreira de Telê Santana, dirigido por Ricardo Pichi e baseado na biografia escrita por André Ribeiro, editado pela Gryphus. O título do filme não poderia ser outro: Fio de Esperança. "Estamos ainda pesquisando os detentores dos direitos autorais para acertar a utilização da música", conta Ribeiro que, por ter amplo conhecimento sobre a história do ex-jogador, atua como entrevistador. O documentário vai apresentar ainda uma trilha especialmente composta por fanáticos por futebol como Arthur Moreira Lima e Wagner Tiso. "São pessoas que admiram o trabalho de Telê e aceitaram rapidamente o convite", comenta Ribeiro. Lembrado principalmente pela passagem como jogador do Fluminense e como técnico da seleção brasileira nas Copas do Mundo da Espanha (82) e México (86), além da vitoriosa carreira no comando do São Paulo (bicampeão mundial em 1992 e 93), Telê Santana foi obrigado a abandonar o futebol em 1996, quando sofreu uma isquemia cerebral. Necessita agora de um cuidado constante, pois ainda sofre algumas convulsões. Mesmo debilitado, ele atendeu prontamente à equipe da produtora Made to Create, que decidiu traduzir em imagens o livro de André Ribeiro. O trabalho começou com três dias intensos de entrevistas com o ex-técnico, em sua casa em Belo Horizonte. Foram momentos que emocionaram a equipe: "Mesmo respondendo com um fio de voz, Telê relembrou fatos, mexeu em seus baús, contemplou fotos e nos concedeu um depoimento tocante", recorda Ribeiro. " As entrevistas e os depoimentos de aproximadamente 60 pessoas vão conduzir o filme, que se desenvolverá em diferentes linhas de trabalho. Além das falas de Telê e dos amigos mais próximos, sua família também vai participar de gravações, principalmente no dia 26, quando Telê completa 70 anos. A comemoração, que deverá ocorrer em Itabirito, cidade mineira onde ele nasceu, será registrada pelas três câmeras utilizadas pela equipe de produção, duas digitais e uma de cinema. Também serão gravadas cenas na Espanha, Arábia Saudita e no Japão, países onde a figura de Telê ainda é cultuada - Ribeiro descobriu, por exemplo, que uma despretensiosa biografia do ex-técnico, escrita por um desconhecido, já vendeu 20 mil exemplares no Japão. "O carisma é forte, pois, ao descobrirem que se trata de um documentário sobre Telê Santana, as pessoas aceitam prontamente participar." Também uma cuidadosa pesquisa de imagens em todas as emissoras do País vai permitir um detalhamento da carreira do futebolista, especialmente do período em que já era treinador. André Ribeiro conta da busca por uma imagem que provavelmente poucos viram: a reação de Telê Santana ao terceiro gol da Itália, justamente aquele que selou a derrota da seleção brasileira (3 a 2) e a conseqüente desclassificação da Copa da Espanha, fato lamentado pela torcida do mundo inteiro. "Estamos vasculhando os arquivos de uma emissora espanhola, a TVE, em busca dessa cena." Processos - Além da fama de vencedor, Telê foi marcado também pela imagem de contestador - tornaram-se notórios os bate-bocas que travou com dirigentes (como o presidente da Federação Paulista de Futebol, Eduardo José Farah) e jogadores (como Renato Gaúcho, dispensado da seleção antes da Copa do México). Assim, depoimentos desses desafetos também serão incluídos no documentário, ao lado de cenas curiosas, como a pilha de processos movidos contra ele ao longo dos anos, que atinge um metro de altura. Fio de Esperança deverá estar concluído em abril do próximo ano e, esperam seus produtores, em todos os formatos previstos. Além de um longa-metragem de 90 minutos para exibição nos cinemas, deverá ser lançado um DVD contendo também a íntegra dos dois jogos (contra Barcelona e Milan) que garantiram o bicampeonato mundial de clubes para o São Paulo. "Temos ainda um projeto de organizar uma exposição de fotos que, com o livro e o documentário, forneceria uma visão ampla da carreira de Telê", observa Ribeiro. Há ainda a possibilidade de utilizar o vasto material pesquisado e produzido para a confecção de um programa especial para a televisão: pode ser tanto uma edição única de 52 minutos, como três ou quatro capítulos de 25 minutos cada um. A equipe coloca Telê a par de todo o processo. "Seus olhos brilham quando comentamos sobre os planos", conta Ribeiro. "Trata-se de uma forma de o manter ligado ao esporte que tanto ama."

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