Produções francesas “de arte” têm chegado com boa frequência ao Brasil. Chegam também as comédias. Algumas “viajam” melhor que outras. Caso clássico é o de Os Visitantes (Les Visiteurs) que, nos anos 1990, foi o maior sucesso dos cinemas franceses e, lançada no Brasil, não fez bilheteria sequer para pagar os cartazes de publicidade. Tal Mãe, Tal Filha pode ter melhor destino. Afinal, o tema é mais universalizável. Como o título indica, fala do relacionamento entre gerações e como ele se dá de maneira às vezes muito complicada.
Além disso, Tal Mãe, Tal Filha tem como protagonista Juliette Binoche, uma grife. Ela faz Mado, uma daquelas mães modernésimas e um tanto aluadas, que ficaram com a cabeça sintonizada em valores meio hippies para desespero dos filhos, que, nesses casos, costumam ser bem mais caretas.
É o que acontece com Avril (Camille Cottin), filha de Mado, uma mulher de seus 30 anos, superestressada, com carreira profissional e vida pessoal estáveis. Elas moram juntas desde que Mado se separou do marido e pai de Avril, Marc (Lambert Wilson).
A mãe é sustentada pela filha, pois não tem como se manter. A mãe é moderna como uma adolescente, a filha é conservadora como uma senhora de idade. Como se vê, a comédia de Noémie Saglio trabalha com essa inversão de estereótipos, que pretende ser inesperada e, portanto, engraçada. E, de fato, essa lógica dos papéis trocados produz sacadas interessantes.
Passado o primeiro efeito de surpresa, o filme se torna previsível. Mas, dentro do que tem de rotineiro, para além dos dotes cômicos de Binoche e do resto do elenco, há algumas questões que passam pela história e não podem deixar de ser citadas. Entre elas a sexualidade, a maternidade, o aborto, etc. Temas que, apesar da evolução da sociedade, ainda provocam controvérsia.
Por exemplo, é sabido que apesar da maior tolerância com assuntos sexuais, existem ainda vários tabus. Entre eles, o do sexo em pessoas de mais idade. Ora, na história, Mado está longe de ser uma pessoa de terceira idade. Mas, para a filha, já deveria estar acomodada há muito tempo. A coisa piora ainda mais quando se trata de uma gravidez tardia e a maneira e circunstâncias em que ela se deu.
Em termos da dramaturgia, o filme não deixa de expor incoerências e contradições que existem em torno desses assuntos. Para além da eventual graça da história, esses temas (ainda) polêmicos são tratados de maneira moderna e progressista pela diretora.
Ninguém espere grandes exercícios estéticos nesse tipo de produto. Foram feitos para divertir e, portanto, mantêm-se no âmbito do rotineiro. Tal Mãe, Tal Filha tem bom ritmo e, isso sim, é vital para o gênero. Acompanha-se bem toda a história e, mesmo quando percebemos que não estamos diante de algo muito original, continuamos presos. Seja pelo talento do elenco (Binoche, mais uma vez), seja porque, dentro de suas limitações, o roteiro é competente.