Syd Field lança novo manual de roteiro

Americano, que é consultor de produtoras e realizadores, ensina "como resolver problemas" de um argumento cinematográfico

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Por Agencia Estado
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O americano Syd Field trabalha com mais de mil roteiros por ano, tanto em cursos que realiza pelo mundo como na função de consultor para a produtora de filmes de Roland Joffé (A Missão) e para a Tri-Star Pictures. Tamanha intimidade com os meandros da escrita cinematográfica permitiu-lhe desenvolver teorias sobre a confecção de roteiros. Assim, sentiu-se bem à vontade para escrever diversos livros técnicos e o último deles, Como Resolver Problemas de Roteiro, foi recentemente lançado pela editora Objetiva. Trata-se de uma obra de auto-ajuda para roteiristas. Field, autor de outro clássico do gênero, Manual do Roteiro (também editado pela Objetiva), prega que um roteiro exige mais que talento e inspiração: é preciso dominar uma técnica. Assim, como um médico isola os diferentes sintomas do seu paciente antes de tratar a doença, ele desenvolveu uma arte de resolver problemas que, após muita análise, foram descobertos no enredo, no personagem ou na estrutura. "Como regra geral, para localizar a origem de qualquer problema você deve começar a procurá-lo desde o início - na primeira página, na primeira palavra", escreve Field em seu livro. "Pode haver muitos personagens, ou você pode nem saber qual deles é o principal, ou sobre que é a história." Ele cita como um exemplo feliz o início do filme Um Sonho de Liberdade: como se trata da história do prisioneiro Andy, é preciso definir rápida e facilmente os motivos que o levaram à cadeia, no caso, o assassinato da mulher e de seu amante. "Os três elementos da trama - assassinato, julgamento e veredicto - são magistralmente intercalados e assim vemos os fatos que levam à condenação de Andy, embora, na verdade, ele não seja mostrado cometendo os crimes." Syd Field apresenta técnicas que julga seguras e, na maioria das vezes, infalíveis. A estrutura de um filme, no seu entender, divide-se em três atos, em que os personagens são apresentados com características bem definidas, há uma tensão na trama e a conclusão, com a vitória do bem. O processo, porém, é questionado por profissionais brasileiros. "Utilizar uma fórmula rígida na confecção de um roteiro é útil especialmente para os inseguros", afirma Marçal Aquino, roteirista dos três longas dirigidos por Beto Brant, dos quais O Invasor é o mais recente e mais premiado. "O que ele propõe como técnica serve de apoio para quem está começando, mas é preciso ter cuidado, pois a rigidez de regras pode se transformar em uma camisa-de-força e a tendência é o surgimento de personagens maniqueístas." Aquino defende a presença de uma certa subversão na elaboração de um roteiro, o que nem sempre é bem compreendido pelos americanos. Quando uma das versões de O Invasor foi analisado por profissionais durante um workshop promovido pelo Sundance Festival, o tom do filme não foi bem detectado. "Um consultor americano pensou que se tratava de uma comédia", lembra Aquino. Alguns cineastas brasileiros, por outro lado, acreditam na eficácia das técnicas desenvolvidas por Syd Field. Zelito Vianna, por exemplo, consultou-o quando elaborava o roteiro de Villa-Lobos. Depois de analisar uma versão preparada por Vianna, o consultor americano sugeriu a inclusão de pequenas cenas que ligassem as cinco fases da vida do compositor, que seriam abordadas no filme. "Percebi que essas cenas-chave seriam os pontos de virada, ou âncora, a argamassa que manteria o roteiro ligado", escreve ele em seu livro. Field, que também deu dicas para o roteiro de O Guarani, de Norma Bengell, já veio seis vezes ao Brasil, auxiliando o trabalho da Motion Pictures Association, entidade que reúne as maiores empresas cinematográficas americanas, na elaboração de filmes sul-americanos sob suas técnicas. As consultas seguem uma tabela fixa: para apenas opinar sobre um roteiro, Field cobra US$ 2 mil. E, para um trabalho mais profundo, outros US$ 3 mil. Serviço Como Resolver Problemas de Roteiro. Manual prático de Syd Field. Lançamento da Editora Objetiva, 358 págs., R$ 36,90.

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