Steven Spielberg faz filme sobre a guerra fria

‘Ponte de Espiões’ estreia em outubro com Tom Hanks no papel de advogado recrutado pela CIA para resgatar espião cujo avião foi abatido na ex-União Soviética; veja trailer

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Por Jake Coyle
Atualização:

Os quase três anos de espera desde o último filme de Steven Spielberg (Lincoln, de 2013) terminarão em outubro com o filme de suspense e espionagem Bridge of Spies.

Para sorte dos cinéfilos, não haverá tão cedo outra pausa tão grande entre as produções do diretor. Depois de terminar Ponte de Espiões, ele vai montar seu próximo filme, The BFG, baseado na história O Grande Gigante Bonachão, de Roald Dahl, e está na pré-produção de Ready Player One (Jogador n.º1), uma aventura de ficção científica baseada no popular livro de Ernest Cline.

Parceria. É a quarta vez que Tom Hanks atua sob ordensdo diretor Foto: Parceria. É a quarta vez que Tom Hanks atua sob ordens do diretor / Divulgação

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É um ritmo que Spielberg, aos 68 anos, diz que pretende manter. “Terei um grande período de direção nos próximos anos”, afirmou. “Nossa última filha, a menor, entrou na universidade na semana passada, e minha esposa (Kate Capshaw) e eu estamos desfrutando do ninho vazio.”

Segundo Spielberg, a folga também permite maior tempo livre à mulher, Kate Capshaw. “Isso lhe dá a possibilidade de envolver-se mais em sua arte, ela que é uma pintora maravilhosa”, observa. “E agora, eu tenho a oportunidade de dirigir filmes sequencialmente.”

Para Spielberg, Ponte de Espiões, que estreia em outubro, é um novo capítulo da história que ele conhece pessoalmente: a guerra fria. Tom Hanks interpreta James Donovan, um advogado recrutado pela CIA para resgatar um piloto espião cujo avião foi abatido na ex-União Soviética.

Numa entrevista recente, durante uma folga da edição de The BFG, o diretor falou sobre o filme, baseado em fatos reais, o inesperado sucesso de Jurassic World – O Mundo dos Dinossauros, e sua falta de interesse por filmes de super-heróis.

O que o levou a realizar 'Ponte de Espiões'? Sempre quis fazer um filme de espiões, mas este não é James Bond. Só James Bond pode ser James Bond. Sempre me fascinou o valor de entretenimento da série de filmes de espiões de Bond, assim como os romances sérios sobre espiões de John Le Carré, especialmente o filme de Martin Ritt, O Espião Que Saiu do Frio. Também filmes de espiões como A Morte Não Manda Aviso, e Ipcress – Arquivo Confidencial, além de Cortina Rasgada, de Hitchcock.

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Estava interessado em fazer um filme que se desenvolvesse durante a guerra fria? Vivi durante a guerra fria e estava muito consciente da possibilidade de andar pela rua, ver um flash branco e ser atomizado. Tinha igualmente muita consciência da insegurança nesse tempo, principalmente para os jovens. É algo que me impressionou muito quando criança. Nos diziam o que fazer em filmes de 16 milímetros, em caso de um ataque aéreo. Quando começassem a tocar as sirenes ou se víssemos o flash, deveríamos nos esconder debaixo da escrivaninha, se possível com um livro bem grosso na cabeça. 

Encontra alguma relação entre esta época e agora? Há muitos pontos importantes entre o fim dos anos 1950 e agora. Hoje, usamos drones, enquanto naquela época eles usavam aviões espiões U2 sobre a Rússia Soviética; nossa história também fala do avião U2 de Gary Powers e a prisão de um espião soviético que trabalhou neste país por dez anos: Rudolph Abel. E o negociador, uma raridade, um advogado de seguros que era um dos promotores nos julgamentos por crimes de guerra de Nuremberg, foi convocado para defender um suposto espião soviético. Além disso, há o clima denso que ele se dispôs a suportar em sua luta para que se fizesse justiça. É uma história sobre um indivíduo de princípios, honesto, feito sob medida para Tom Hanks.

É seu quarto filme com ele. Cada colaboração é melhor que a anterior. Nos divertimos muito juntos.

Você causou sensação há dois anos quando disse que Hollywood caminhava para uma implosão pelo excesso de filmes de grandes orçamentos. Ainda pensa assim? Sim, ainda sinto o mesmo. Estávamos por aí quando morreram os filmes de vaqueiros, e haverá um momento em que os filmes de super-heróis terão o mesmo destino dos westerns. Não significa que não haverá outro momento no qual voltarão os filmes de vaqueiros e os de super-heróis. Claro que, neste momento, os filmes de super-heróis fazem o maior sucesso. Eu só falei que estes ciclos têm tempos específicos na cultura popular. Chegará o momento em que as histórias mitológicas serão suplantadas por outros gêneros e, quem sabe, algum cineasta jovem pensará em descobri-lo para todos nós.

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Você ficou surpreso com o sucesso de 'Jurassic World – O Mundo dos Dinossauros', o filme do qual foi produtor executivo? Estou de volta ao negócio dos dinossauros. Prometemos que haveria mais dentes e nos recompensaram por isto. Teria sido genial se tivéssemos conseguido o que o pessoal esperava, um fim de semana de US$ 100 milhões em três dias. Isso teria dado para o ano inteiro, para mim. Mas o fato de ter ganho mais do dobro do que os especialistas esperavam, me deixou muito feliz.

Ponte de Espiões é o primeiro filme em anos que fez sem trilha musical de John Williams, seu colaborador habitual. Por quê? John Williams voltará para fazer The BFG. Somente duas vezes não trabalhamos juntos em 42 anos. A primeira foi em A Cor Púrpura, em 1985, que teve música de Quincy Jones, e a segunda foi porque Johnny teve de se submeter a um pequeno procedimento médico, que lhe impediu de compor para o meu filme no prazo que ele pensava. Agora está bem, está 100% de volta para trabalhar em Guerra nas Estrelas, mas, infelizmente, não pôde trabalhar em Ponte de Espiões. Pude trabalhar com Thomas Newman, de quem sou fã. Este foi somente um tropeço e ambos ficamos tristes com isso, mas nos emociona voltar para The BFG.

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