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Steve Martin está sério em Garota da Vitrine

Estréia nesta sexta o filme que é uma adaptação do primeiro romance de Steve Martin, que além de ator, roteirista e ex-apresentador do Oscar, é também escritor

Por Agencia Estado
Atualização:

Além de ator, roteirista e ex-apresentador do Oscar, Steve Martin também escreve romances nas horas vagas. E a julgar pela avaliação de publicações de respeito, como a revista The New Yorker e o jornal The New York Times, tem talento para a coisa. Ele estreou na literatura com A Balconista (2000), um romance breve, lançado no Brasil pela editora Record, sobre a confusa vida amorosa de uma garota de Vermont perdida no caos silencioso de Los Angeles. Depois de vencer a resistência em adaptá-lo para o cinema, por considerar a história ?intimista demais?, o comediante finalmente decidiu enfrentar o desafio e escreveu um roteiro. Garota da Vitrine, sob a direção do inglês Anand Tucker, é um filme surpreendente sobre como é impossível comandar os sentimentos alheios em um relacionamento. Claire Danes faz o papel de Mirabelle Buttersfield, justamente a ?garota da vitrine?. Ela trabalha no balcão de luvas na loja de departamentos Sacks, em Los Angeles. A beleza clássica e desconcertante combina com a decadente sofisticação do lugar onde trabalha. Com um jeito tímido e uma atitude firme, chama a atenção dos clientes sem fazer o mesmo esforço da colega perua na seção de cosméticos. Nascida e criada em Vermont, está na chamada ?cidade dos anjos? para tentar a sorte e se destacar como artista plástica. Com essa mistura de paradoxos, ela transita com a mesma desenvoltura tanto pelos corredores das classes mais abastadas de Beverly Hills quanto pelos subúrbios proletários de Silver Lake. Martin interpreta o empresário Ray Porter, um executivo que na altura de seus 50 e poucos anos não procura mais uma relação estável, mas uma companhia agradável para jantar e passar as noites com algo mais do que um vazio do outro lado da cama. Um homem educado que vê na polidez e na franqueza remédios para qualquer tipo de mal-entendido, especialmente com as mulheres. É ele quem aparece no balcão de luvas de Mirabelle na Sack?s e pede para ver alguns pares. Quando pergunta a ela o que acha, decide mudar de opinião e em vez de levar o par cinza, acaba seguindo o conselho da vendedora e fica com o par preto. O mesmo pacote de presente acaba na soleira da porta dela com um bilhete: ?Gostaria muito de jantar com você... Ray Porter.? A Balconista, ue inspirou o filme, foi o primeiro romance de Martin Jason Schwartzman, comediante americano que lembra um pouco a tradição de humor físico de Martin, entra nessa história como o jovem e atabalhoado Jeremy, um artista gráfico cheio de idéias, iniciativa e energia, mas incapaz de saber o que fazer com tudo isso. Um ser humano primitivo e rude, sem saber que está sendo ambas as coisas. Quando encontra Mirabelle numa lavanderia, consegue vencer a barreira de falar com ela, de pedir o telefone e até de ligar para um encontro. Mas quando a deixa em casa depois do passeio, confunde-se todo com os sinais e não sabe muito bem o que fazer. ?Posso beijá-la ou não?, pergunta ele, indeciso, da primeira vez. Diante do sorriso dela, ele chega à conclusão: ?Acho, então, que não teremos beijo?, tenta, para sair logo em seguida. Garota da Vitrine mostra Mirabelle dividida não apenas entre dois mundos, mas entre dois tipos de postura diante da vida. E nessas duas divisões, a questão central é o relacionamento afetivo. Um famoso crítico americano, Roger Ebert, do jornal americano Chicago Sun Times, escreveu a propósito do filme que ?uma das coisas que não se pode fazer na vida é impor condições para o amor; outra é esperar que o coração de outra pessoa simplesmente acomode os nossos desejos e necessidades?. Correto e a história realmente segue essa linha de pensamento. Mas há algo mais por trás dessa premissa e isso está impresso em cada um dos fotogramas que desfilam pela tela em quase duas horas de projeção. Da escolha das locações aos figurinos, passando por uma elaborada fotografia, tudo aponta para um mundo dividido, em que as pessoas não estão mergulhadas por inteiro em suas vidas. Essa sensação de fragmentação está representada não apenas nas relações e nos ambientes, mas nos próprios personagens, que parecem observadores da vida e não agentes dela. Em uma cena muito simbólica do que isso significa, Porter conta ao analista que conheceu Mirabelle e de como está conduzindo o relacionamento ao mesmo tempo em que ela conta às amigas o seu ponto de vista da relação. ?Estou saindo com alguém, ele é muito educado e parece gostar de mim?, diz ela para as duas amigas incrédulas. ?Deixei perfeitamente claro para ela que não se trata de uma relação duradoura?, contrapõe ele para o psicólogo. Ao tentar controlar o mundo e as outras pessoas, invariavelmente o resultado é trágico. Isso também se aplica a tentar controlar as emoções e as respostas alheias. Encontrar a luva perfeita, para usar a metáfora central de Garota da Vitrine, não só é uma tarefa impossível, como também não leva em consideração algo que faz parte da vida e não pode ser mudado: a imperfeição. Garota da Vitrine (Shopgirl, EUA-Ing-Suí/2005, 104 min.). Romance. Dir. Anand Tucker. 12 anos. Em grande circuito. Cotação: Bom

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