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"Sonhos Tropicais" conjuga histórias de Osvaldo Cruz e imigrante judia

Diretor e distribuidor André Sturm estréia no longa-metragem com um roteiro inspirado em romance de Moacyr Scliar e aulas de História

Por Agencia Estado
Atualização:

Há diretores que são atores, fotógrafos ou roteiristas e acumulam as duas funções. E há o caso de André Sturm. O diretor de Sonhos Tropicais, que estréia nesta sexta-feira em São Paulo e no Rio, é distribuidor. Dono da Pandora, empresa quase sempre associada ao conceito do cinema de arte, Sturm está acostumado a barganhar datas e circuitos com os exibidores. Mas admite que é mais fácil fazer isso quando o filme é dos outros. "Barganhar em causa própria me causou muitas vezes constrangimento." Sonhos Tropicais estréia em 12 salas nas duas cidades. São bons circuitos. Em São Paulo, o Espaço Unibanco e o Unibanco Arteplex, mais salas de shoppings. O Sturm diretor não tinha dinheiro para o lançamento. O distribuidor veio em seu socorro e lhe adiantou a verba. É uma situação meio esquizofrênica: "Estou devendo para mim mesmo." O filme passa também sexta no Festival do Recife. Integra a competição pelos troféus Passista. Sturm confessa que ficará feliz se atingir a marca dos 100 mil espectadores. "É um número emblemático no mercado brasileiro, hoje." Sturm sabe do que está falando. Tendo feito sua formação de cinéfilo no Cineclube da GV (a Fundação Getúlio Vargas), ele virou distribuidor em 1989, no Festival de Berlim, quando, no peito e na raça, adquiriu os direitos de distribuição de quatro filmes. O primeiro deles só foi lançado um ano mais tarde. Fez sucesso de público e crítica no mercado alternativo e estabeleceu o conceito que a Pandora continua seguindo, 12 anos depois. O título: Vozes Distantes, de Terence Davies. Ao longo dessa década prodigiosa, a Pandora lançou, no Brasil, diretores como o grego Theo Angelopoulos (Paisagem na Neblina) e o polonês Krzysztof Kieslowski (Não Amarás). Muitas apostas de Sturm deram certo, mas houve fracassos memoráveis, que o desapontaram. O deslumbrante Luna Park, de Pavel Lounguine, fez apenas 2 mil espectadores. Um público maior do que esse, Sturm poderá ter somente esta noite no Recife. O Teatro Guararapes, no qual Sonhos Tropicais será exibido, é um auditório de convenções com capacidade para mais de 2 mil pessoas sentadas. O diretor conta como Sonhos Tropicais surgiu em sua vida. Ele leu um texto de Moacyr Scliar na imprensa sobre a Revolta da Vacina. A leitura reavivou nele uma antiga lembrança: a aula apaixonada que um professor de História lhe deu sobre o mesmo episódio. Sturm começou a ler tudo o que se referia ao assunto. Uma de suas fontes foi o livro de Scliar que dá título à produção. A partir daí, começou a tecer as duas linhas narrativas do filme. 1) A luta de Oswaldo Cruz para modernizar o Rio (e o Brasil), sua determinação em enfrentar a peste e os incidentes que culminaram na Revolta da Vacina. 2) A via-crúcis de Ester, a judia polonesa que veio para o Brasil atraída por uma proposta de casamento e aqui foi obrigada a prostituir-se. As duas histórias eram cruzadas no primeiro roteiro de Sonhos Tropicais. Cruz freqüentava o bordel de Ester, ia para a cama com ela. Sturm achou que era forçar a barra. Não precisou forçar barra nenhuma para colocar na tela o embate entre modernidade e atraso, que até hoje divide o Brasil. A corrupção lhe parece um mal endêmico no País. "Coloquei frases no filme em função da dramaturgia e dos personagens e só depois me dei conta que se ajustavam a aqui e agora." Pergunte ao Sturm distribuidor o que ele gosta no filme do Sturm diretor. A resposta vem célere: "Os atores." Bruno Giordano faz um Oswaldo Cruz convincente e Carolina Kasting é deslumbrante como Ester. Autocrítico, Sturm aceita as críticas ao que não funciona muito: a articulação dos dois eixos narrativos. "Crítica construtiva é boa", diz. Também não funciona uma idéia que parecia boa no roteiro: os velhinhos na Confeitaria Colombo, que expressam as idéias da oligarquia da época. "Se não funciona, a culpa é minha", admite. Seu filme é tradicional, classicão, quase acadêmico. Não tem muito o perfil da Pandora. O próximo longa será de invenção, revela. Está escrevendo o roteiro - uma história original - com a escritora Adriana Lisboa, que define como um grande talento. Adorou o livro dela, Sinfonia em Branco. Serviço - Sonhos Tropicais. Drama. Direção de André Sturm. Br/2002. Duração: 120 minutos. 12 anos

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