Soderbergh chega às locadoras em dose dupla

Pacote traz Traffic, que lhe rendeu o Oscar de direção, e o inovador O Estranho

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Por Agencia Estado
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No fim da festa do Oscar deste ano não havia muita gente contente. Ridley Scott estampou na cara a raiva por ter perdido o prêmio de direção, enquanto Gladiador ganhava a estatueta de melhor filme. Inversamente, Steven Soderbergh, que ganhou o prêmio de direção (por Traffic), também não gostou nem um pouco de ter visto seu filme preterido na categoria principal. Tudo isso é passado, mas vale lembrar agora que Traffic está saindo em vídeo da Europa. O curioso é que o filme chega às locadoras no mesmo pacote que traz outro trabalho do diretor, O Estranho. Acredite: Soderbergh recebeu por Traffic a estatueta que merecia por O Estranho. Nada mais próprio da Academia de Hollywood (e do Oscar). Traffic causou verdadeira comoção pela urgência com que o diretor traça seu painel sobre as drogas. Soderbergh funde várias linhas: a ação desenrola-se simultaneamente nos EUA e no México. Mostra Michael Douglas como o magistrado que assume o comando do combate às drogas a pedido da Casa Branca e vê seu projeto atropelado por problemas familiares, quando a própria filha se revela uma viciada. Há os policiais dos dois lados da fronteira, desde o mexicano, interpretado por Benicio Del Toro, no papel que lhe deu o Oscar de coadjuvante - esse, sim, merecido -, até o americano Don Chaddle, que também poderia ter candidatado ao prêmio. Ele não é menos espetacular no papel. E há Catherine Zeta-Jones como a mulher que vê o marido ser preso como traficante e supera o abalo para assumir, ela própria, o cartel da droga em Los Angeles. A habilidade com que o diretor desenvolve todas essas linhas narrativas impressiona tanto que impede que se veja, com clareza o que também é um fato: se o espectador isolar cada um desses segmentos vai ver que o tratamento que Soderbergh lhes dá é bastante convencional, para não dizer moralista. Os latinos, como sempre em se tratando de Hollywood, são tratados sem o mínimo de respeito e isso termina atingindo o personagem de Del Toro. Comparativamente, O Estranho é melhor e mais ousado, senão exatamente no tema - um assassino profissional que é solto em Londres e vai a Los Angeles para se vingar do mafioso responsável pela morte de sua filha -, com certeza pela audácia das soluções narrativas que propõe. Soderbergh apontou o cinema do futuro com sexo, mentiras e videotape, em 1989. O Estranho é o que se pode esperar de um inovador da linguagem. E o filme oferece um belo papel a Terence Stamp, um ícone dos anos 60, cujo passado o diretor lembra por meio de imagens de um velho filme de Ken Loach, A Lágrima Secreta.

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