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'Sobre Rodas', Mauro D’Addio, cai na estrada em busca da identidade

Como seus jovens protagonistas, diretor tenta afirmar um gênero de filme

Por Luiz Carlos Merten
Atualização:

Laís e Lucas estão na estrada, tentando seguir a trilha do pai dela. Colhem uma informação aqui, outra ali. Chegam a essa casa que pode ser dele, e a dona, uma idosa, refere-se em termos vagos ao filho que está ausente. Convida a dupla para jantar. Frango ao molho pardo. Algo se passa, ou será só a imaginação de Laís e Lucas? O clima vira de terror, reproduzindo uma ameaça que eles já sentiram na estrada.

Curioso filme, o de Mauro D’Addio. Estranho – de cara parece só um road movie sobre o casal de amigos, duas crianças. Ela sonha encontrar o pai, a quem a mãe se refere como ‘o falecido’. Ele a ajuda, mas o próprio Lucas é deficiente. Atropelado por um caminhão, ficou paralítico. Sofre bullying na estrada. Sobre Rodas possui certo encanto, que se deve principalmente à empatia da dupla principal, formada por Lara Boldorini e Cauã Martins. Cada um tem seus motivos para enfrentar a estrada, mas digamos que, para ambos, a jornada tenha o sentido de uma afirmação da própria identidade.

Na estrada. Ela quer encontrar o pai, ele passa a ajudá-la Foto: DISTRIBUIDOR KLAXON CULTURA AUDIOVISUAL

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Ela quer desvendar o enigma da identidade do pai. Ele quer fugir à asa protetora do pai, da mãe, desafiar o mundo para provar a si mesmo que a falta de mobilidade nas pernas não o paralisa para a vida. Saem sobre rodas. Uma bicicleta, uma cadeira de rodas. O filme on the road, na estrada, compõe um gênero específico. No Brasil, podem-se citar Central do Brasil, de Walter Salles; O Caminho das Nuvens, de Vicente Amorim, para não lembrar o mais antigo Doida Demais, de Sérgio Rezende, com Vera Fischer.

Dentro do gênero, abrem-se subgêneros – comédia familiar, drama, melodrama, terror. E a estrada, ali, com seu apelo. É metáfora de vida, de crescimento, de maturidade. Laís e Lucas transformam-se na estrada. A mãe dele, que diz que o filho foi sequestrado por uma ‘marginal’, vai ter de rever conceitos. O diretor, também. Ele tenta uma via – o filme infantojuvenil. Precisa aprimorar-se, mas tem potencial.

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