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Sigourney Weaver brilha na abertura da Berlinale

A atriz roubou a cena na apresentação de Snow Cake, de Marc Evans, que abriu hoje o Festival de Cinema de Berlim

Por Agencia Estado
Atualização:

O filme Snow Cake, de Marc Evans, abriu hoje o Festival de Cinema de Berlim e levou ao tapete vermelho Alan Rickman e Sigourney Weaver para uma história de fortes emoções: a aparentemente impossível relação entre um homem atormentado e uma mulher autista. Rickman, no papel de um homem carrancudo, que se vê obrigado a se comunicar com a mãe autista (Weaver), cuja filha acaba de morrer em um acidente no carro que ele dirigia. Esse é o ponto alto de um filme mergulhado em um belo "bolo de neve". O britânico Evans, autor de A Ressurreição (1998) e Trauma (2004), parte de um sólido roteiro escrito por Angela Pell, mãe de um menino autista. Pell diz que aprendeu "a cansativa e mágica convivência" - palavras da roteirista - com uma pessoa que tem essa doença. O propósito de toda a equipe - do diretor à roteirista e, claro, de Weaver também - é retratar o autismo a partir de uma perspectiva da "dignidade humana que se merece", segundo Evans. "Não é um filme sobre uma autista, mas sobre uma mulher extraordinária que possui experiências extraordinárias", argumentou Sigourney Weaver. Entrar na personagem não foi fácil, a atriz dedicou "muito tempo, empenho mental e esforço físico", disse Weaver em uma coletiva de imprensa. A experiência fez ela concluir que "não existe um único autismo, cada autista é um ser especial". O resultado é uma interpretação mais do que digna, mas que acaba sendo ofuscada por Rickman, o taciturno e sarcástico inglês de maneiras impecáveis, recém-saído da prisão por matar um homem e que deixa entrar em seu automóvel, de má vontade, uma extrovertida adolescente - Emily Hampshire, também com atuação excelente. A adolescente conseguirá o primeiro sorriso, em anos, do rosto atormentado do homem. Segundos depois, a adversidade cruzou seu caminho em forma de caminhão de grande tonelagem. Snow Cake é o tipo de filme melancólico, mas cheio de esperança, povoado por personagens castigados pela adversidade que, no entanto, não perderam a capacidade de amar. Weaver é uma fanática pela ordem - aparentemente, uma característica comum entre os autistas - e pelo sabor da neve, um bolo que come aos poucos. A amizade entre essa mulher incapaz de expressar dor pela morte da filha - da qual é perfeitamente consciente - e o viajante se molda em um bolo de neve, meio de comunicação definitivo entre ambos. "Sigourney deu a medida da autenticidade à minha interpretação", disse, modestamente, Rickman. Existem algumas cenas forçadas, como o fraco romance do viajante com uma vizinha (Carrie-Anne Moss). Também não ficou natural o empenho de Evans em terminar o círculo de casualidades e infortúnios que liga os personagens. Mesmo assim, Snow Cake foi uma boa abertura para o festival, assim como quer o diretor o evento, Dieter Kosslick: bons filmes e presenças atraentes sobre o tapete vermelho. Tratando-se de presenças atraentes, Sigourney Weaver apareceu diante dos repórteres com um generoso decote, contrastando com a imagem de mulher fisicamente sem atributos que ela dá à personagem. Snow Cake teve a honra de abrir o desfile de 19 candidatos aos Ursos. O júri que avaliará os filmes tem à frente a atriz britânica Charlotte Rampling. "Estou feliz por presidir o júri de um festival como este, comprometido politicamente e com o cinema de qualidade. Justamente o cinema que me interessa", afirmou Rampling na apresentação de sua equipe, formada por oito membros, entre eles o ator Armin Müller-Stahl. A mensagem é igual à lançada antes por Kosslick, de que o Festival de Berlim desta edição terá caráter marcadamente político. Não só pela presença de dois filmes iranianos - Zemestan, de Rafi Pitts, e Offside, de Jafar Panahi -, mas também porque o Festival de Berlim deve estar "próximo da realidade", segundo Kosslick.

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