"Shrek" é forte candidato ao novo Oscar

Pela primeira vez em sua história a Academia abre uma categoria especial para o melhor filme animado. Apesar de Disney ter feito história no Oscar, Shrek é o filme mais cotado

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Por Agencia Estado
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Foi Walt Disney que, em 1933, usou pela primeira vez em público a palavra Oscar para designar o prêmio anual da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood. Até sua morte, em 1966, Disney monopolizou a cerimônia daquele que se tornaria um dos prêmios mais cobiçados do cinema, transformando-se no maior vencedor individual dele: ao todo, conquistou 26 estatuetas. Foi um desenho de seu estúdio Toy Story, o primeiro filme de animação a concorrer a um Oscar de melhor roteiro. Mais importante do que isso, em 1991, A Bela e a Fera (que está voltando aos cinemas americanos no dia 1.º em versão Imax), se consagraria como o primeiro longa animado a concorrer ao Oscar de melhor filme. Em março, o prêmio da Academia terá, pela primeira vez em sua história, uma categoria especial para o melhor filme animado. Desde 1981, quando foi institucionalizado o Oscar de melhor maquiagem, que a Academia não criava um novo prêmio. A categoria de melhor filme animado será apresentada daqui para a frente nos anos em que oito ou mais produções do gênero forem lançadas no cinema americano. Tal Oscar, entretanto, parece representar o maior golpe que a Disney sofreu dentro da história da Academia, desde 1988, quando Rob Lowe abriu o show anual do Oscar num grotesco musical no qual contracenava com uma Branca de Neve não autorizada (a Disney acabou processando a Academia). Embora a Disney concorra ao prêmio com Monstros S.A., recém-lançado no Brasil depois de arrecadar mais de US$ 210 milhões nos EUA, o favorito com um corpo de vantagem é Shrek, uma cínica-fábula que se transformou num dos filmes mais cultuados pelo público em 2001, sobretudo por tripudiar em cima dos desenhos clássicos da Disney. Produzido pelo estúdio DreamWorks, empresa que mais investe nesse filão animado depois da Disney, Shrek foi uma criação do executivo Jeffrey Katzenberg, que tinha razões pessoais para se vingar de sua atual concorrente. Foi Katzenberg o responsável pelo renascimento do departamento de animação da Disney, criando a fórmula de musical-evento no final da década de 80 e responsável por títulos como A Pequena Sereia, Aladim e O Rei Leão, além, é claro, de A Bela e a Fera. Em 1994, numa disputa com Michael Eisner, chefe da empresa, Katzenberg deixava a Disney. Pouco tempo depois, abria um processo contra a empresa, alegando que essa lhe devia US$ 250 milhões de bônus depois de ter revitalizado um de seus setores mais importantes de criação. Após sua saída, Katzenberg foi resgatado por Steven Spielberg e o executivo da música David Geffen, e os três fundaram o estúdio DreamWorks. A Disney pode ter perdido recentemente o toque mágico em seus animados, mas Katzenberg tampouco conseguiu recriar o sucesso de seu antigo trabalho na DreamWorks. Isso até a chegada de Shrek. Em entrevista ao jornal O Estado de S.Paulo, Katzenberg e o Thomas Schumacher, o chefe dos estúdios Disney, afirmaram que gostariam de ver seus desenhos tendo chances na categoria principal, a de melhor filme. Katzenberg, porém, não se importa com a criação do novo Oscar. "Com certeza, vai significar num tremendo incentivo para a animação, que está passando por um período de grandes transformações", disse Katzenberg ao Estado, ao promover o lançamento americano de Shrek. "Comecei a trabalhar numa empresa (Disney) do século 20, na qual o modelo a ser seguido para a animação ainda era o mesmo executado nas décadas de 30 e 40", prossegue. "Continuei essa tradição, mas acrescentando novas nuances, que se mostraram muito eficazes. Agora que mudei para uma empresa com mentalidade do século 21, experimento uma grande revolução." E acrescenta: "o último desenho em que trabalhei na Disney foi O Rei Leão todo editado em filme. Desde então, os desenhos começaram a ser montados em Avid (programa que faz edição computadorizada e sem seqüência linear), que é uma das mais poderosas máquinas criativas colocada na mão dos cineastas e especificamente na dos animadores". Requisitos - Para o primeiro Oscar de desenho animado, nove produções foram classificadas e terão que preencher os requisitos dessa categoria, que é supervisionada pelo ator Tom Hanks, o mais novo integrante da comissão da Academia. Desses nove títulos, um comitê de cem pessoas, formada por 50 profissionais de animação e 50 de outras áreas da Academia, selecionarão três filmes, cujos nomes serão anunciados no dia 12 de fevereiro, junto as demais categorias do prêmio. Os filmes pré-selecionados têm padrões bastante distintos. Os favoritos Monstros S.A. e Shrek, por exemplo, não chegam aos pés da inventividade de dois marcos da animaçao em 2001: o desenho japonês Final Fantasy, co-produção entre a empresa japonesa Square Pictures e o estúdio Sony Pictures, e responsável por criar personagens humanos por meio do fotorrealismo (infelizmente, a mesma atenção não foi dada ao roteiro do filme, que não teve uma boa performance na billheteria); e o independente Waking Life, de Richard Linklater produzido pela Fox Searchlight e mostrado em Veneza e na 25.ª Mostra de São Paulo. Linklater, mais conhecido como diretor do filme Antes do Amanhecer, vale-se de um novo processo de animação computadorizada que transforma atores reais em pinturas animadas. Assim, se você deparar com versões animadas dos atores Ethan Hawke e Julie Delpy discutindo na cama, não se assuste, pois, debaixo de tanta "tinta", estiveram realmente os atores. Esses dois títulos lutam para preencher a terceira e última vaga da categoria de animado. Os filmes restantes são banais, com toda pinta de produções feitas diretamente para o vídeo. Uma delas, "O Cisne Apaixonado" (The Trumpet of the Swan), da Sony Pictures, foi lançada em vídeo no Brasil em setembro. Desse pacote, o que se destaca é Jimmy Neutron - O Menino Gênio, que a Nicklodeon/Paramount Studios lança este final de ano nos EUA (no Brasil, o desenho chega em fevereiro) e é uma aposta alta dessas companhias de explorar o filão de filmes para menores de dez anos, aberto com sucesso dos Rugrats. Completam a lista Marco Polo: Return to Xanadu, da Tooniversal Company; Ramayana: The Prince of the Light, co-produção entre Japão e Índia. A Warner Bros. comparece com Osmosis Jones, dos irmãos Peter e Bobby Farelly (os mesmos de Quem Vai Ficar Com Mary?), que mistura animação e live action para contar a história de uma bactéria que destrói o sistema imunológico do funcionário não muito asseado de um zóologico. Tudo o que acontece dentro do corpo do ator Bill Murray foi criado por animadores. Nessa lista, falta apenas Atlantis: O Reino Perdido, que a Disney lançou no verão americano. Considerado uma decepção pela crítica, mas muito melhor que a lista citada acima, o desenho não foi inscrito pelo estúdio, uma vez que o departamento de animação da Disney prefere apoiar 100% a campanha de Monstros S.A. A estratégia do DreamWorks também é de 100%. Eles até usaram uma tática antes muito comum a Disney, de tentar roubar a atenção para um filme antigo de seu acervo no dia do lançamento de um novo animado do concorrente. Assim, na sexta-feira de estréia de Monstros S.A. nos cinemas americanos, o DreamWorks antecipou o lançamento de Shrek em DVD (novos DVDs chegam as prateleiras todas as terças). O DVD de Shrek acabou sendo um sucesso (US$ 100 milhões em vendas só no primeiro final de semana), mas não conseguiu abalar o sucesso de Monstros S.A. Em março, a categoria mais concorrida e esperada do Oscar, quem diria, será disputada por monstrengos verdes e púrpuras.

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