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"Shaft" está de volta, vestindo Armani

O policial constrói-se na dinâmica física desse grande astro negro que é Samuel L. Jackson. Mas, como dizia Hitchcock, o bom policial tem de ter um vilão: Christian Bale, o garoto de Império do Sol, de Steven Spielberg

Por Agencia Estado
Atualização:

Samuel L. Jackson e Vanessa Williams são vestidos por Armani no filme de John Singleton. Pode parecer simples detalhe de produção, mas revela alguma coisa. Aquela capa esvoaçante de couro que Jackson veste, como Shaft, não é simples imitação de John Woo. Shaft, o filme, é um thriller com estilo, talvez até estiloso demais, mas não nega fogo. A nova versão de Shaft, dirigida por John Singleton (de Os Donos da Rua), chega aos cinemas de São Paulo, depois de ter sido lançada em junho nos EUA, onde arrecadou mais de US$ 70 milhões. Cinema começa e se dilata na epiderme dos atores - uma lição velha que os bons diretores sempre conseguem renovar. Shaft constrói-se na dinâmica física desse grande astro negro que é Jackson. Ele é a alma do filme, mas, como dizia Hitchcock, o bom policial não precisa só de um bom mocinho. Tem de ter um vilão eficiente, também. Há um vilão chicano, meio caricatural, em Shaft. E há Christian Bale. O garoto de Império do Sol, de Steven Spielberg, foi recentemente o psicopata americano do filme que Mary Harron adaptou do livro de Bret Easton Ellis. Bale é arrogante, mimado, violento. Faz um contraponto mais do que adequado à solidez de Jackson. Bale interpreta um yuppie acusado de matar um garoto negro e que é preso pelo detetive Shaft. Para levá-lo a julgamento, Shaft precisa convencer uma testemunha do crime a depor contra o criminoso. Enquanto isso não acontece, o yuppie fica solto e acaba se associando a um imigrante dominicano que controla o tráfico de drogas no Harlem e quer se livrar de Shaft Shaft irrompeu nas telas no começo dos anos 70, integrando a onda dos blaxploitation movies, quando Hollywood descobriu, após a consolidação dos direitos dos negros nos anos 60, que havia público para fantasias com astros afro-americanos. Shaft foi uma criação do diretor Gordon Parks e do roteirista Ernest Tidyman (vencedor do Oscar por Operação França), com Richard Roundtree no papel do detetive. O primeiro Shaft volta nessa sexta, no Canal 21. Roundtree faz o tio do herói no remake. O tema musical de Isaac Hayes, premiado com o Oscar, ganha novos acordes. Nada se cria, tudo se transforma. Era errado, mas, na falta de uma definição melhor, Shaft era chamado de "James Bond negro". Não era espião, não tinha direito de matar nem o armamento sofisticado de 007, mas em comum com o agente criado pelo escritor Ian Fleming tinha o fato de ser bom de pontaria, de punhos - e de cama. Os créditos da nova versão investem nessa idéia. Aquelas fusões de imagens em que o herói empunha sua fálica pistola, o êxtase da mulher tocada, acariciada, tudo isso antecipa o clima da aventura. John Singleton entrou para a história como o diretor de um só filme - Boyz N the Hood provocou polêmica por seu enfoque da violência nos guetos negros de Los Angeles. Com Shaft, o diretor volta a exercitar a violência. Seu filme é politicamente incorreto em vários níveis. Desgostoso porque não consegue prender o jovem riquinho que comete o assassinato no começo, Shaft deixa a polícia para fazer justiça por conta própria. Isso, que é discutível com Charles Bronson na série Desejo de Matar, não é menos discutível aqui. Mas o estilo atraente garante uma boa sessão para fãs de ação. Ele É o Máximo (Shaft). Ação. Direção de John Singleton. EUA/2000. Duração: 99 minutos. 18 anos

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