Sganzerla ironiza o balcão de favores do cinema

Enquanto aguarda o lançamento em DVD de O Bandido da Luz Vermelha, o cineasta conclui O Signo do Caos, em que ataca a burocracia cinematográfica

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Por Agencia Estado
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O ano promete ser marcante para o cineasta Rogério Sganzerla - enquanto aguarda o lançamento em DVD, previsto para agosto, de sua obra mais significativa, O Bandido da Luz Vermelha, que completa 35 anos de realização, o diretor de 56 anos pretende lançar o 16.º título de sua carreira: O Signo do Caos. E, como se trata de Sganzerla, a contundência é visceral. "Meu filme é uma defesa do cinema", diz. Trata-se de um projeto de sete anos, que não foi inscrito nas leis de renúncia fiscal e contou com o apoio da distribuidora carioca Riofilme, que investiu R$ 280 mil na produção. A história se passa em uma espécie de alfândega, em que funcionários ineptos, com o Dr. Amnésio à frente, controlam a entrada e saída de todo material. Tudo não passa de uma alegoria pela forma como é gerenciada a atual política do audiovisual no Brasil em que, segundo ele, "as piores pessoas são responsáveis pelo julgamento". Com isso, nomes importantes do cinema foram relegados a um plano secundário ao longo da história, impossibilitados de exercitar plenamente seu talento. Sganzerla cita Anselmo Duarte, Alberto Cavalcanti, Watson Macedo, Zé do Caixão como cineastas incompreendidos tanto pela censura como pela burocracia cinematográfica. A inspiração começa, na verdade, com seu ídolo, Orson Welles, que também não pôde controlar a edição de It´s All True, rodado no Brasil nos anos 40 e deixado inacabado. "Desde aquela época, os burocratas vêm liquidando com o cinema", critica o cineasta. Urgência - Sganzerla foi obrigado a montar sua própria sala de edição a fim de realizar o trabalho nos detalhes previstos. Ele assumiu o projeto em caráter de urgência, pois pretende exibir o filme nos festivais de Gramado (julho) e Locarno (agosto), na Suíça. Para isso, precisa de patrocínio para conseguir as duas cópias, uma das quais tem de ser legendada. "Quero exibir meu protesto contra a forma com que é gerido o cinema", explica. "Meu filme é uma propaganda da alma e do corpo brasileiro." Sua defesa do cinema coincide com o lançamento em DVD de O Bandido da Luz Vermelha, cujos originais estavam se perdendo. "Graças ao trabalho de um grupo de admiradores da minha obra, foi possível conseguir a versão em DVD", explica o diretor. O DVD deverá ser lançado até o próximo mês.

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