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Sete diretores capturam a vida durante a pandemia em ‘The Year of the Everlasting Storm'

Filme oferece um olhar sóbrio sobre onde estivemos durante o último um ano e meio - e onde eventualmente podemos aterrissar

Por Pat Padua
Atualização:

O filme The Year of the Everlasting Storm reúne o trabalho, do prosaico ao poético, de sete diretores que tiveram a tarefa de completar uma narrativa curta sob as restrições da pandemia. Cada um dos segmentos de ficção e de não ficção foram realizados em suas respectivas locações utilizando apenas talentos locais ou outros conectados remotamente. O resultado oferece um olhar sóbrio sobre onde estivemos durante o último um ano e meio - e onde eventualmente podemos aterrissar.

Zhang Yu, à direita, interpreta o pai de uma criança no curta-metragem de Anthony Chen, uma das sete obras de sete diretores no filme 'The Year of the Everlasting Storm'. Foto: Neon

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Os produtores do filme inspiraram-se na desenvoltura de Jafar Panahi, um diretor iraniano que fez Isto Não é um Filme, um documentário de 2011 realizado enquanto ele estava em prisão domiciliar em Teerã. Panahi, que co-produziu Storm, começa com um olhar sobre sua vida sob as ordens pandêmicas de permanecer em casa. Enquanto sua família discute sobre o coronavírus com alguma preocupação, o segmento se parece muito com o longa de Panahi de 2011, incluindo a reaparição de Iggy, a enorme iguana do diretor, que parece agitada enquanto ele olha da janela para um mundo fora de alcance.

Os curtas ficcionais exploram os desafios familiares decorrentes da pandemia. O segmento de Anthony Chen conta a história de um jovem casal chinês (Zhou Dongyu and Zhang Yu) tentando conciliar o trabalho em casa e os cuidados com uma criança; a narrativa de 20 minutos cobre um período de 30 dias, e o relacionamento do casal torna-se tenso. Em uma vinheta de The Green Knight, do diretor David Lowery, Catherine Machovsky interpreta uma texana que, após descobrir um esconderijo com antigas cartas de família, começa uma busca por um corpo enterrado durante a epidemia de gripe do século passado. É uma ideia promissora que se torna piegas quando o cadáver fala com a voz de um menino, forçando a sentimentalidade em uma situação já tensa.

Enquanto o medo da contaminação está na cabeça de muita gente, Citizenfour, da diretora Laura Poitras levanta as preocupações em torno dos efeitos da pandemia no que se refere à vigilância da sociedade. Seu curta documental alerta para o fato de que o software de rastreamento de contatos utilizado para rastrear a exposição à covid-19 foi desenvolvido por uma empresa cujos produtos colocaram seus colegas jornalistas em perigo. E nós realmente queremos que os agentes de aplicação da lei tenham acesso a essas ferramentas?

Atravessando países diferentes com restrições diferentes, Storm não segue exatamente uma linha, mas da iguana de Panahi ao assombroso segmento final, os cineastas parecem lembrar-nos de que a natureza é resiliente. O diretor tailandês Apichatpong Weerasethakul (Tropical Malady) termina o filme com o hipnotizante Night Colonies, que registra a vida de insetos zumbindo sob luzes fluorescentes no que parece ser uma cama abandonada – pertencendo, fica implícito, a uma vítima da pandemia.

The Year of the Everlasting Storm não termina com uma catarse, mas até os insetos podem ter algo a ensinar para a humanidade: resistir da melhor forma que pudermos, por mais minúsculos que possamos nos sentir diante de um mundo incompreensível.

TRADUÇÃO DE LÍVIA BUELONI GONÇALVES

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