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'Sem Direito a Resgate’ não vai além dos diálogos afiados e do esforço de seus atores

Sequestro cômico é esquecível, mas tem seus bons momentos

Foto do author Luiz Zanin Oricchio
Por Luiz Zanin Oricchio
Atualização:

Sem Direito a Resgate é a adaptação de Daniel Schechter para o romance The Swicht, de Elmore Leonard. Ordell Robbie (o rapper Yasiin Bey) e Louis Gara (John Hawkes) são dois ladrões pé de chinelo, que decidem embarcar num grande golpe – aquele definitivo, para resolver a vida de todos, para sempre.

O filme, ambientado nos anos 1970, é fiel ao espírito de Leonard – reviravoltas, desfechos surpreendentes, diálogos afiados, humor negro. Não existe grande preocupação com a verossimilhança. Você tem de entrar nesse universo e pronto: relaxar e divertir-se, se for o caso.

Cena de 'Sem Direito a Resgate' Foto: Reprodução

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Vale lembrar que outro dos romances de Leonard, Ponche de Rum, foi adaptado por Quentin Tarantino, com o título Jackie Brown. Os mesmos personagens, mais envelhecidos, estão no filme de Tarantino, interpretados por Samuel L. Jackson e Robert De Niro.

O tal do golpe definitivo vem na forma de um sequestro. A dupla leva uma mulher, Mickey (Jennifer Aniston), cujo marido, Frank (Tim Robbins), está mais interessado numa amante jovem, Melanie (Isla Fischer), que na manutenção do matrimônio.

Os sequestradores levam a vítima à casa de um cúmplice, um cidadão fanático pelo nazismo (Mark Boone Jr.). Tem bandeiras com suásticas espalhadas pela casa, armas do tempo da 2.ª Guerra e ouve hinos de guerra da Wehrmacht. Esse é o universo de Leonard, bem captado por Schechter: o tom absurdo que traz comicidade a situações dramáticas.

A história trabalha com um impasse lógico. Todo sequestro supõe que a família fará de tudo para reaver o ente querido sequestrado. E quando o “ente” não for mais tão querido assim? E, pelo contrário, o que temos é um marido disposto a livrar-se da esposa pelo menor custo possível. 

Desse impasse, da vocação meio atrapalhada dos bandidos, e de uma releitura bem particular da Síndrome de Estocolmo, Sem Direito a Resgate tira a sua graça.

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Uma graça moderada, diga-se, num filme de pouco brilho e que começa bem para ir despencando depois. Bem, pelo menos revela algumas surpresas finais que, se não redimem, pelo menos o tornam mais palatável. 

Aniston está bem como a mulher madura que aproveita o sequestro para resolver alguns problemas particulares. Ela tem veia cômica, como se sabe. Robbins também é convincente como o empreiteiro cafajeste, corrupto e aproveitador. Seu ar de inocência diante do espanto dos outros com seus feitos é bem divertido. O pulha sempre se acha incompreendido. E da trinca de sequestradores, o mais divertido é John Hawkes, como Louis Gara.

Não se deve esperar de Sem Direito a Resgate nada além de um divertimento razoável. Nesse sentido, ele cumpre sua função. Depois, é esquecê-lo e deixar espaço na memória para coisa mais consistente. / L.Z.O

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