'Segredos do Putumayo' retrata sangrento colonialismo inglês no Amazonas

Documentário de Aurélio Michiles evoca expansão colonialista durante a exploração da borracha

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Foto do author Luiz Zanin Oricchio
Por Luiz Zanin Oricchio
Atualização:

Questionado se hoje não estaríamos melhor caso o Brasil tivesse sido colonizado por holandeses ou franceses, um professor da História da USP costumava responder: “Não existe história bonita do colonialismo”. Segredos do Putumayo, documentário de Aurélio Michiles, em cartaz nos cinemas, ilustra, de modo impactante, a brutalidade da política de expansão colonialista, qualquer que seja ela ou o país que a promova. O filme evoca o colonialismo inglês no Alto Amazonas, região do Putumayo – na fronteira entre Equador, Colômbia e Peru – capítulo dos mais sangrentos da história da exploração da borracha na Amazônia. 

Segredos do Putumayo, de Aurélio Michiles, está na programação do festival É Tudo Verdade Foto: Aurélio Michiles/É Tudo verdade

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Segredos do Putumayo baseia-se nos diários deixados pelo poeta, diplomata e ativista irlandês Roger Casement (1864-1916), na época servindo no Brasil como cônsul do Império Britânico. Casement viajou até o local para apurar denúncias e constatou (e também fotografou) as atrocidades a que eram submetidos os indígenas no processo de extração do látex. A voz de Casement é a do ator Stephen Rea. 

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Segredos do Putumayo revela-se uma obra grandiosa. Tanto pela força das imagens e do texto interpretado por Rea quanto pela triste atualidade de sua denúncia. Liga diversos momentos da história, do colonialismo belga na África aos métodos brutais da Peruvian Amazon Company que redundaram em milhares de mortes de indígenas na região do Putumayo. Estende-se aos dias de hoje, com a “flexibilização” das leis de proteção ambiental e das garantias aos territórios indígenas na Amazônia brasileira, que abrem espaço para novos genocídios. Era (e é) o lucro a qualquer custo humano e não os alegados propósitos civilizatórios que guiam os impérios em suas intervenções no estrangeiro. 

Além da denúncia do genocídio dos povos originários, Segredos do Putumayo repõe em cena a figura central de Roger Casement. Somando suas experiências na África e na América, Casement pode ser visto como um pioneiro na defesa dos direitos humanos. O Diário da Amazônia de Roger Casement pode ser lido em cuidadosa edição da Edusp (2016). O próprio Aurélio Michiles, em parceria com Mariana Bolfarine e Laura P. Z. Izarra, editou o belo livro que acompanha o lançamento do filme, Segredos do Putumayo (Colmeia, 2022).

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