Scorsese engrossa coro anti-Bush em Cannes

Oposição ao presidente americano, acusado de se beneficiar de fraude eleitoral, dar dinheiro a grupos armamentistas de direita e estimular o ódio aos árabes, está nos filmes e nas entrevistas coletivas

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Por Agencia Estado
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Martin Scorsese veio mostrar nesta segunda-feira 20 minutos de seu novo filme, Gangs of New York. Leonardo DiCaprio e Cameron Diaz estiveram presentes à exibição. O material promete: Scorsese usa de extrema violência para mostrar a base de fundação da América. Para ele, seu filme é uma interrogação sobre o que são os EUA e o que é ser americano. A frase final dessa condensação de Gangs of New York diz que a América nasceu nas ruas. Na coletiva, realizada a seguir, Scorsese não fugiu às perguntas que exigiam dele uma tomada de posição em relação ao governo de George Bush. A impressão que se tem aqui na Croisette é que Cannes 2002 declarou guerra à administração Bush. Primeiro foram as acusações de Michael Moore, o diretor do admirável documentário Bowling for Columbine, estabelecendo a ligação de Bush com a família de Bin Laden e os serviços que lhe prestou durante o auge da crise deflagrada pelo ataque às torres gêmeas de Nova York. Logo em seguida, veio o episódio de Ten Minutes Older, no qual Spike Lee contesta a legitimidade da presidência de Bush, invocando o que chama, com todas as letras, de "fraude" na eleição na Flórida. E na segunda houve outra coletiva importante. A de 11/9/01. O filme que evoca a tragédia do ano passado será formado por episódios de 11 minutos de duração. Mais exatamente: 11 minutos, 9 segundos e 1 décimo. Ken Loach, Sean Penn, Danis Tanovic, Amos Gitai, Shohei Imamura, Samira Makhmalbaf, Yousef Chahine e Mira Nair são alguns dos diretores. Nem todos estavam presentes. Os que estavam despejaram baterias de críticas contra o governo americano. Bush foi acusado, mais uma vez, de estimular a paranóia do povo americano para justificar sua política de segurança destinada a dar dinheiro aos grupos armamentistas de direita que o puseram na Casa Branca. Samira aproveitou para deplorar esse ódio contra o mundo árabe. É dele que vem esse diálogo de surdos, disse. Logo após a coletiva, o repórter encontrou Michael Moore. Falou-lhe do curta de Spike Lee. Ele concordou, "absolutamente", como disse. "Bush não é um presidente legítimo porque sua eleição foi fraudada." Acha que tudo o que está ocorrendo aqui em Cannes terá, necessariamente, repercussão nos EUA. "Eles não podem ignorar essa torrente de críticas." Por "eles", entenda-se Bush e seu staff. "Esse homem é um perigo", alerta Moore, que rebate as acusações de antipatriotismo dizendo que, para ele, ser patriota é "combater essa camarilha que vem se instalando no poder desde a era Ronald Reagan, com objetivos que denigrem os princípios fundadores da América".

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