Schwarzenegger põe truculência a serviço da ideologia

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Por Agencia Estado
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Houve um tempo, diante de filmes como Comando para Matar, em que os críticos podiam iludir-se com Arnold Schwarzenegger. Ele tinha humor, não se levava tão a sério quanto Sylvester Stallone, ao vestir o modelito Rambo. E não é que Schwarzenegger nos enganou este tempo todo? Efeito Colateral mostra que ele está à direita de Rambo, se é que existe essa posição no espectro ideológico de Hollywood. A estréia de amanhã é simultânea em todo o mundo. Japão, Europa, EUA e Brasil vêem o filme ao mesmo tempo. A direção é de Andrew Davis, que fez O Fugitivo, um bom, na verdade ótimo, filme de ação. Davis agora diz a que veio. Efeito Colateral deveria ter estreado nos EUA em outubro ou novembro. A estréia foi adiada por causa dos acontecimentos de setembro. Não foi feito sob o impacto da tragédia. Nem essa desculpa tem. Até a metade, Efeito Colateral engana. Você pode achar que foi considerado inoportuno por certas características que ostenta. Schwarzenegger faz um bombeiro. Logo no começo, sua mulher e o filho morrem num atentado, quando um terrorista colombiano - El Lobo - detona uma bomba em Washington. Schwarzenegger parte para a desforra. O primeiro a sentir a força de seus punhos é o diretor de uma organização internacional de defesa dos direitos humanos que assume a defesa do terrorista, dizendo que a morte da mulher e do filho do herói é um efeito colateral, no quadro da guerra do terror contra o imperialismo. Na seqüência, a narrativa toma rumos inesperados: o militar norte-americano é um babaca e o terrorista também é um homem desesperado, cuja filha foi morta num ataque dos norte-americanos. Ficam os dois nivelados, o bombeiro e o terrorista. Você fica achando que o filme foi considerado inoportuno por isso. Não fecha com os brios patrióticos dos norte-americanos após o ataque às torres gêmeas. E aí muda tudo. Uma personagem decisiva vira metáfora da revolução como força destrutiva e dá novo sentido a tudo o que o espectador viu antes. Não é só um filme manipulador e propagandístico. Sua violência irracional e truculenta, essencial para garantir o envolvimento do público, é uma das experiências mais desagradáveis proporcionadas pelo cinemão nos últimos tempos. O horror, o horror.

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