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Sátira a obesos levanta polêmica em Hollywood

Por Agencia Estado
Atualização:

O recurso de fazer humor em cima de pessoas obesas pode estar com os dias contados em Hollywood. A recente onda de situações de comédia envolvendo nomes como Julia Roberts, Gwyneth Paltrow e Martin Short transformados em personagens acima do peso começa a criar desconforto nos Estados Unidos, onde o Screen Actors Guild, o sindicato dos atores, criou uma comissão para tentar melhorar o retrato dos gordinhos na mídia. Nos últimos tempos, uma série de filmes ridicularizou obesos nos cinemas. Em Vovó Zona, Martin Lawrence é transformado em uma típica "momma" do sul dos Estados Unidos, com direito a sonoras cenas de desarranjo intestinal. Austin Powers: o Agente Bond Cama traz Mike Myers no papel de Fat Bastard. Em Os Namoradinhos da América, Julia Roberts passa a fazer sucesso depois que perde 30 quilos. Em Shalow Hal, ainda inédito, Gwyneth Paltrow vive uma mulher com mais de 200 quilos que "aparece" magra sob os olhos do namorado, hipnotizado por sua "beleza interior". Eddie Murphy também fez vários personagens obesos em O Professor Aloprado 2 e até a Monica Gellar, de Friends, tem um passado infeliz com muitos quilos a mais. A gota d´água foi o programa Primetime Glick, do canal por assinatura Comedy Central, estrelado por Martin Short (de Viagem Insólita e Marte Ataca). Nele, Shor aparece vestindo um "fat suit", as populares máscaras envolvendo falsos recheios, e seu personagem, Jiminy Glick, provoca risadas por comer o tempo todo na frente das câmeras. Para a diretora do comitê feminino do Screen Actors Guild, Rebeccah Bush, "pessoas acima do peso são o último preconceito permitido pela sociedade". "Estes atores têm direito de interpretar os personagens, mas poderiam ser mais sensíveis a essas pessoas", diz ela. De fato, é curioso que, em um país onde até uma versão cinematográfica de Mr. Magoo causou reclamações de associações de deficientes visuais, a sátira aos obesos tenha ficado ilesa até agora. Se o comitê do Screen Actors Guild tiver um papel tão atuante quanto a Gay and Lesbian Association Against Defamation (Glaad), que monitora o retrato de gays e lésbicas na mídia, os produtores de Hollywood devem se preparar para muita dor de cabeça. O Screen Actors Guild pretende promover workshops com atores, diretores de elenco, roteiristas e produtores para tentar melhorar a maneira como os obesos são retratados. A entidade acha que, se os atores acima do peso recusarem papéis que ridicularizam seus tipos físicos, a indústria pode passar a criar personagens mais politicamente corretos. Ironicamente, os atores acima do peso estão perdendo espaço para os magros usando os "fat suits". Alguns críticos de cinema observam que a associação de personagens obesos a situações de comédia já faz parte da cultura americana, onde, por sinal, mais da metade da população está acima do peso. Para Jeffrey Wells, do site Reel.com, o retrato dos gordinhos "está sempre associado à gula e falta de disciplina, e o público sempre reage a isso com gargalhadas". "Mas não é um retrato preciso nem simpático." Talvez não tenham ajudado muito as declarações recentes de Roberts e Paltrow sobre suas "experiências" como gordinhas. Roberts disse que nunca mais quer passar pela mesma "situação" e Paltrow revelou que no primeiro dia em que usou o "recheio" estava em um hotel chique de Nova York e foi passear pelo lobby: "Ninguém olhava diretamente nos meus olhos porque eu era obesa", disse ela. "É muito triste." Só que ela escorregou ao falar sobre as roupas "de gente gorda". "Elas geralmente têm temas infantis ou estampas ridículas." Para tentar amenizar a polêmica, o ator principal de Shalow Hal, Jack Black, garante que a comédia defende os obesos. "O personagem apaixona-se por ela", revelou à revista Entertainment Weekly. Mas o Screen Actors Guild não concorda: "Sabemos que, no fim das contas, o personagem é gordo e desprezado por todos", aposta Bush.

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