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São Paulo terá série "beckettiana" de curtas

Por Agencia Estado
Atualização:

Uma das atrações do Festival Internacional de Curtas do ano passado foi Eu não Sou, que Neil Jordan realizou para a interpretação de Julianne Moore, sua atriz (admirável) em Fim de Caso. Eu não Sou integra a mostra 19 X Beckett, que o Grupo Estação traz a São Paulo, após a exibição desse conjunto de filmes de formato reduzido no Festival do Rio BR 2001. A programação começa amanhã. É imperdível para fãs de teatro e cinema. Jordan é irlandês, como Beckett, mas seria um tanto reducionista achar que o escritor convertido em cineasta fez o curta só por causa disso. O teatro nunca mais foi o mesmo depois de Esperando Godot. Quando a peça estreou em Londres, em 1955, o crítico Kenneth Tynan manifestou sua admiração e misto de perplexidade: "Não tem trama, não tem clímax, não tem desfecho, nem começo, meio e fim." Isso, que talvez justifique o empenho de Jordan em colocar o dramaturgo e romancista na tela também levou o biógrafo de Beckett, Anthony Cronin, a definí-lo como o último modernista. Já virou lugar-comum dizer que o modernismo libertou o escritor da narrativa convencional e da psicologia, digamos, ordinária. Beckett levou o modernismo até onde podia ir. E construiu sua obra sob o signo da frase com que abre justamente Esperando Godot: "Nada a fazer". Ele próprio a contradisse e, pelos anos e textos seguintes, foi ficando cada vez mais austero e minimalista. Os críticos costumam definí-lo como modernista da segunda geração, encaixando-o com Vladimir Nabokov William Faulkner e Henry Miller. Criou um humor amargo, sombrio levemente absurdo na sua disposição de ser irônico e, mais que isso, zombeteiro. Decorridos 22 anos de sua morte (em 1989, aos 82 anos), continua vivo. As Beckettianas, como se poderia definir a série de curtas divididos em programas, traz outros nomes ilustres na abordagem do autor, além de Neil Jordan. Karel Reisz dirige Ato sem Palavras e nada mais beckettiano do que esse homem sentado no deserto que luta inutilmente para alcançar a garrafa de água que poderá lhe servir de consolo. David Mamet assina Catástrofe e o curta traz no elenco John Gielgud e Harold Pinter. Precisa mais? Patricia Rozema dirige Dias Felizes, sobre uma socialite que se entretém com uma bolsa cheia de objetos, convencida de que é feliz e a vida vale a pena, embora o autor duvide disso. Esperando Godot, talvez o Beckett mais célebre, é revisto por Michael Lindsay-Hogg. E há A Última Gravação, dirigido por Atom Egoyan, What Where, assinado por Anthony Minghella (com Alan Rickman). É um programa e tanto. 19 X Beckett. Sexta e sábado, a partir das 15h30; domingo, 15h20; segunda, 17h20; terça e quarta, 17h30. R$ 8,00. Belas Artes - Oscar Niemeyer. Rua da Consolação, 1.423, tel. (11) 258-4092. Até 18/10.

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