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Sandra Werneck filma vida de Cazuza

Por Agencia Estado
Atualização:

Nos últimos meses, Sandra Werneck tem vivido intensamente, 24 horas por dia, em função de Cazuza. Tudo começou em setembro, com o convite que lhe fez o produtor e diretor Daniel Filho, da Globo Filmes, para que ela fizesse o filme sobre o cantor e compositor. Para Sandra, é uma experiência nova. Em Pequeno Dicionário Amoroso e Amores Possíveis, ela não trabalhou apenas a partir de argumentos originais. Fez um verdadeiro trabalho de artesã, trabalhando, o quanto possível sozinha, na confecção dos produtos em que acreditava. Sandra gosta de dizer que só entende o cinema como uma experiência autoral. A concepção não mudou, as condições, sim. Pela primeira vez, ela se prepara para ser só diretora, transferindo para outro os riscos da produção. E, pela primeira vez, sente-se também parte de um esforço de equipe. Ela corrige: "Todo filme é sempre um produto de equipe, mas antes a responsabilidade era só minha, tudo tinha de passar por mim, pelas minhas decisões; agora vou ter o Daniel, para tomar algumas decisões por mim." Algumas, isto é, aquelas que se referem à produção do filme. Da direção, Sandra não abre mão. Vai continuar sendo ela mesma. Daniel Filho avisa: "Vou ser um produtor bonzinho, solidário; claro que vou interferir no filme, mas será sempre para o bem e esperando contribuir para o sucesso do empreendimento." Você pode acreditar que foi decisivo, para a escolha de Sandra como diretora do filme sobre Cazuza, o episódio do gay de Amores Possíveis. A própria Sandra tem um carinho especial pela história do marido que abandona a mulher para assumir sua opção sexual e viver um amor homo. "É um mundo ao qual não tenho acesso, não tenho muitos amigos gays, daqueles de compartilhar experiências, confidências; tive de me aproximar com tato daqueles personagens, tentando descobri-los, entendê-los; acho que ficou bem." O público concorda: Amores Possíveis fez pouco mais de 380 mil espectadores e o episódio do gay foi um dos que tiveram melhor receptividade. Não foi um estouro de bilheteria, mas alcançou um resultado apreciável, a ponto de a Fox continuar associada à diretora no que seria seu próximo projeto e agora foi adiado para dar vez ao filme de Cazuza: Janelas Abertas. Método - "Estava com o roteiro do Janelas pronto quando o Daniel me propôs a direção desse filme; o Janelas é um projeto que eu gosto muito e quero fazer logo, mas a captação está difícil; gostei da idéia de filmar a vida do Cazuza e, ao mesmo tempo, gostei da idéia de ser, pelo espaço de um filme, só a diretora, transferindo para outro todas as preocupações com custos e prazos que tanto desgastam a gente." É asssim que Sandra trabalha agora, em ritmo de dedicação integral, no roteiro de Cazuza, co-assinado por seu cúmplice, mais do que parceiro habitual, Paulo Halm. A base do filme é o livro com o depoimento que a mãe do artista, Lucinha Araújo, deu à jornalista Regina Echeverria, Cazuza - Só as Mães São Felizes. "É um livro muito bom, muito corajoso; não recua diante de nada para construir um retrato humano e completo do personagem." Sandra está na fase de selecionar cenas para a história que quer contar. Ainda não encarou o desafio maior, que é justamente definir a forma de narrar. Ela diz: "É o que me apaixona: a definição da estrutura, a forma como a história vai ser construída no inconsciente do público; foi assim no encaminhamento dos episódios de Amores Possíveis, que, no fundo, formam uma só história com todas as suas possibilidades." A estrutura ela pode não ter definido, mas sabe perfeitamente porque Cazuza lhe é tão caro. "Ele era uma figura maravilhosa: se você pensar vai ver que o Cazuza deu voz à geração dos anos 80; não só ele, o Renato Russo também, mas o Cazuza tinha aquela coisa de atitude, de agredir e provocar com suas denúncias e também fazer um rock permeado de dor de cotovelo, no qual alternava o verso mais lírico com a frase mais cruel; e ele era uma figura solar." É esse o xis da questão. Pela própria personalidade do biografado - bissexualidade, homossexualismo, aids -, era natural que Daniel Filho quisesse um dedo feminino na história, já que no livro ela também é contada pela mãe. O produtor confessa que chegou a pensar em outro nome e diz qual foi: Roberto Talma. "Mas o Talma é um homem de TV e o que vamos fazer é um filme." Escolheu Sandra muito mais pelo humor do Pequeno Dicionário Amoroso do que pelos retrato humanos dos gays de Amores Possíveis. Sandra não quer fazer um filme pesado, para baixo. Acha que isso seria trair Cazuza. "Ele tinha aquela fome de viver e eu vou falhar se não colocar isso na tela." O filme pretende ser amplo: cobrir a fase do Barão Vermelho, expor as loucuras, a fragilidade, a aids. E, sempre, veicular a poesia de Cazuza. "Não vai ser um musical, mas um filme com música", explica Sandra, que tem visto muitos filmes sobre roqueiros. Sabe The Doors de cor, mas quer que Cazuza seja menos fechado, menos escuro que o filme de Oliver Stone sobre Jim Morrison. Outros títulos que viu em busca de inspiração: Fama, Os Commitments - Loucos pela Fama, Hedwig. O repórter cita Velvet Goldmine: sim, ela viu o filme de Todd Haynes, gostou muito de sua narrativa em puzzle, com elementos de Cidadão Kane, o clássico de Orson Welles. Mas não quer imitar ninguém: quer encontrar o seu tom, a sua fórmula. E quer, claro, colocar na tela as grandes criações de Cazuza: Todo Amor que Houver nessa Vida, Faz Parte do Meu Show, O Tempo não Pára, Codinome: Beija-Flor e Brasil Mostra Tua Cara. Daniel Filho sonha com uma estrutura narrativa que permita colocar na tela o próprio Cazuza. Sandra sabe que o ator certo é fundamental. "Poderá ser alguém conhecido, mas em janeiro vamos abrir um concurso nacional para testar candidatos." O filme, uma produção da Globo, da Cineluz (de Sandra) e da Lei It Be (produtora de Daniel Filho), será distribuído pela Columbia, parceira de Daniel em A Partilha, que fez 1,5 milhão de espectadores nos cinemas. O custo? "Não é um filme caro, aliás, eu não faço filmes caros", diz Sandra. Vai custar só um pouco mais que Amores Possíveis, que ficou em R$ 2,2 milhões.

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