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Samba e hip-hop nas telas do cinema, no Festival do Rio

Na sexta, Ricardo Van Steen mostrou "Noel", e no sábado, Tata Amaral trouxe para a Première Brasil Negra Li e suas parceiras da Vila Brasilândia em "Antônia"

Por Agencia Estado
Atualização:

Foi um fim de semana musical no Festival do Rio, com samba, hip-hop e afro-reggae. Na sexta, Ricardo Van Steen mostrou "Noel", com o estreante Rafael Raposo no papel do poeta da Vila. No sábado, Tata Amaral trouxe para a Première Brasil Negra Li e suas parceiras da Vila Brasilândia em "Antônia". Van Steen e Tata trabalham no registro da ficção. No domingo, foi a vez de Cacá Diegues e Rafael Dragaud mostrarem seu documentário "Nenhum Motivo Explica a Guerra", sobre o grupo que usa a musicalidade para resgatar a cidadania dos excluídos sociais, o AfroReggae. O filme de Van Steen é bom. Seu ator é maravilhoso, marcando presença num ano em que Selton Mello, por "O Cheiro do Ralo", parecia que ia dominar sozinho a Première Brasil. Tata decepcionou um pouco. Embora seu filme tenha um interessante aspecto documentário, "Antônia" parece um compêndio de clichês sobre a periferia, desenvolvendo superficialmente personagens e situações. Antes de estrear nos cinemas, "Antônia" vai virar série da Globo, com estréia apontada para o mês que vem. A sensação é de que o filme é um piloto da série. Vai funcionar bem na TV. No cinema, não explode, exceto na cena magnífica em que as garotas querem cantar rap numa festa de gente rica e terminam fazendo coro para "Killing Me Softly", cantada pelo dono da casa. Tata retoma, aí, a impossível integração entre favela e centro do poder presente em filmes de autores como Beto Brant, Murilo Salles e Fernando Meirelles. O melhor de seu filme é uma idéia de mise-en-scène. As garotas sobem e descem morro, colocam e tiram o salto alto. Há uma riqueza metafórica muito grande no que parece só um detalhe. Os personagens do documentário de Cacá e Rafael Dragaud são geniais. O filme talvez seja um pouco tradicional e até institucional demais, mas o que se diz em "Nenhum Motivo Explica a Guerra" é muito forte. E houve "A Rainha". Helen Mirren só não vai para o Oscar se o filme não estrear até dezembro nos EUA. Stephen Frears fez um filme aparentemente sobre a rainha Elizabeth II e seus problemas com a princesa do povo, Lady Di. Na verdade, "A Rainha" é sobre Tony Blair. Sem dizer uma palavra sobre o apoio de Blair a George W. Bush - o foco está numa época anterior -, o cineasta antecipa a rejeição nacional e internacional ao premier. Frears é fogo.

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