Sai em DVD coleção Luchino Visconti

Rocco e Seus Irmãos sai em DVD com um regalo especialíssimo entre os extras: o documentário que Carlo Lizzani, crítico, teórico, fez sobre o diretor

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Por Agencia Estado
Atualização:

Mal terminou (na sexta-feira) a retrospectiva de Luchino Visconti e já é preciso voltar ao grande diretor italiano. Rocco e Seus Irmãos inaugura a Coleção Luchino Visconti da Versátil. O que vem por aí é de dar água na boca: Obsessão, Belíssima, La Terra Trema... O DVD de Rocco não apenas traz, com imagens e sons de primeira, um dos mais belos filmes do cinema como ostenta, entre os extras, um regalo especialíssimo: o documentário que Carlo Lizzani, crítico, teórico e ele próprio diretor ligado ao neo-realismo, fez sobre o diretor, iluminando aspectos fundamentais de sua vida e obra. Há filmes que fazem parte das experiências inesquecíveis que um espectador pode ter no cinema. Rocco, para muita gente, é um desses filmes, mas a retrospectiva mostrou que, se fosse preciso escolher um só filme de Visconti, a sua obra-prima, dificilmente deixaria de ser Vagas Estrelas da Ursa, por tudo o que esse filme representa como evolução estilística e até temática na obra do autor. Vagas Estrelas vai além de O Leopardo, de Rocco. A descoberta da lente zoom faz Visconti avançar em relação ao antropomorfismo inicial do seu cinema, quando ele dizia que a câmera, como expressão do humanismo, deveria dirigir-se, fundamentalmente, para o corpo do ator. Em Vagas Estrelas, o cenário é fundamental: Volterra, a cidade que está sendo destruída pelo tempo. E há a cena extraordinária da cisterna, quando a zoom flagra, refletida na água, a imagem invertida do irmão incestuoso de Sandra, a bela Electra de Visconti, interpretada por Claudia Cardinale no melhor papel que o diretor ofereceu à atriz. Por maior e mais importante que seja Vagas Estrelas, permanece o carinho que se pode ter por Rocco. A história da desintegração da família Parondi na cidade grande oferece um dessas raras lições de cinema clássico (e narrativo) que influencia diretores em todo o mundo. O Francis Ford Coppola de O Poderoso Chefão? É cria de Rocco. O personagem de Al Pacino, Michael, é desenhado a partir do de Alain Delon e até a música de Carmine Coppola, o pai de Francis, bebe na fonte de temas que Nino Rota criou para a obra-prima de Visconti. James Gray? Não foi por acaso que ele exibiu Rocco e Seus Irmãos aos atores de Caminho sem Volta (Charlize Theron, Mark Wahlberg e Joaquin Phoenix) como exemplo do clima que pretendia obter na sua crônica da desintegração de uma família mafiosa. Rocco conta a história de uma mãe e seus cinco filhos - unidos como os dedos da mão, como Rosaria Parondi conta num determinado momento. Logo na abertura, a família chega à industrializada Milão, no Norte, rompendo com a estrutura agrária (e feudal) vigente no Sul italiano. Visconti divide o filme em capítulos. Conta a história de cada um dos irmãos: Vicenzo, Simone, Rocco, Ciro e o caçula, Luca. Simone, que vira boxeur, acelera a desintegração da família. Ciro vira operário especializado da Alfa Romeo. Na ótica marxista de Visconti, deveria ser o personagem central. O aristocrata Visconti, porém, com suas pulsões destrutivas, é mais atraído pela bondade excessiva de Rocco. A síntese do filme é Luca, caminhando por aquela estrada de esperança, no desfecho. Num certo sentido, Rocco é uma utopia - uma grande utopia social, que foi decisiva para os que sonhavam mudar o mundo nos anos 1960. A narrativa barroca incorpora o mito. Você nunca vai esquecer a mãe, uma criação genial de Katina Paxinou, nem a prostituta, a sublime Annie Girardot, que, como Nádia, oferece, com a Vivien Leigh de Uma Rua Chamada Pequena, de Elia Kazan, as que talvez sejam as maiores interpretações femininas da história do cinema. Serviço - Rocco e Seus Irmãos (Rocco e i Suoi Fratelli). Itália, 1960. Direção de Luchino Visconti. DVD da Versátil, R$ 39,90.

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