Robert Drew, o grande homenageado da edição

PUBLICIDADE

Por Agencia Estado
Atualização:

Numa conversa por telefone, de Nova York, na sexta-feira, Robert Drew confessa que está entusiasmado com a visita ao Brasil, onde é o grande homenageado internacional do 10.º É Tudo Verdade, que começa hoje, em São Paulo, e na quinta-feira, no Rio. Até dia 10, o eixo São Paulo-Rio vira o grande pólo do documentário na América Latina. O norte-americano Robert Drew é o mestre do documentário, autor de filmes como Primárias e Faces de Novembro. Ele diz que nunca esteve no País, mas logo corrige - "Estive no começo dos anos 1940, a caminho da 2.ª Guerra, na Europa." Drew foi um dos recrutas norte-americanos que fizeram seu aprendizado de caserna na base que os EUA montaram em Natal - e cuja existência foi tema de um filme simpático de Luiz Carlos Lacerda, For All, o Trampolim da Vitória. O jovem Drew, que embarcava para a guerra, não imaginava que se tornaria um grande documentarista, mas aquela experiência o marcou e está na origem de From Two Men and a War, seu novo filme, que ele traz para mostrar aqui. Drew era repórter da revista Life quando, no começo dos anos 1950, foi cobrir em Chicago o processo que opunha o governo dos EUA à General Motors, a GM. A TV estava começando. Drew fazia parte e levou um choque, ao ver a imagem dos dois advogados do governo - um rapaz e uma moça - , entrando na Court House ao mesmo tempo que o batalhão de advogados da GM. Drew lamentou não dispor de uma câmera de TV para registrar a cena. Menos de dez anos mais tarde, Drew já era repórter e cinegrafista da rede NBC quando associou-se a engenheiros para criar a câmera portátil, com som acoplado, de fácil manuseio. "Foi aí que tive a idéia de fazer Primárias, sobre a disputa eleitoral de 1960." Ele conta que foi atraído pela personalidade do senador John Kennedy, que tinha tudo contra ele - era jovem, católico e tinha um discurso progressista que não agradava aos caciques do Partido Democrata. Conseguiu as autorizações de Kennedy e do também senador Hubert Humphrey, outro que pleiteava a indicação dos democratas para concorrer à presidência, e fez o filme que deflagrou o ´cinema direto´. "Nos EUA, muita gente não entendeu o que estávamos fazendo. Na Europa, menos ainda, mas jovens diretores como Jean-Luc Godard se interessaram pela nova tecnologia que havíamos desenvolvido e o resultado foi a nouvelle-vague." Era uma fase de efervescência cultural e política. Três anos mais tarde, Kennedy, então presidente, foi morto em Dallas e Drew, sob o impacto daquele acontecimento tremendo, fez outro documentário que se tornou clássico - Faces em Novembro. Desde então, não parou mais. Aos 81 anos, continua jovem e entusiasmado. Acha que o documentário se popularizou, mas não pensem que reza na cartilha de Michael Moore. Bate duro no diretor de Fahrenheit - 11 de Setembro. "É uma questão semântica. O que ele faz não é documentário." Drew diz que Moore editorializa suas reportagens, transforma-as em shows e isso é o reverso do que ele acha que deva ser um documentário.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.