Robert De Niro quer fazer história como produtor

Em entrevista ao Estado, ator comenta o filme que estréia amanhã no Brasil, Showtime, e adianta as últimas novidades de sua produtora

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Por Agencia Estado
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Apesar de beirar 1,80 m de altura, Robert De Niro parece particularmente baixinho numa cadeira estilo diretor, armada especialmente numa das suítes do hotel Drake, na Park Avenue, onde o ator promove o filme Showtime, que estréia amanhã no Brasil. Os assessores do estúdio Warner Bros. estão jubilosos, De Niro encontra-se de bom humor. Tradução: o ator tímido e monossilábico está dando respostas "completas", com pelo menos duas sentenças. E, se você não for muito afoito e entender que alguns segundos de silêncio dele significam hora de pular para outra pergunta, De Niro poderá ainda emendar uma terceira ou quarta sentença à resposta. Realmente De Niro está bem humorado. Ele recebe o repórter do Estado com seu semblante indiferente e, para quem não é familiar com a timidez dele, talvez um pouco hostil. Mas tudo muda quando, durante o aperto de mão, a nacionalidade do interpelador é anunciada. "Ah, me diga como vão os brasileiros", diz De Niro. "Ouvi dizer que a crise energética está brava e que vocês estão ficando até sem luz, é verdade?" Ao saber que a crise nacional de energia não foi tão diferente da enfrentada pela Califórnia no ano passado, De Niro pula para outra pergunta. Ele quer saber se a economia brasileira está sendo muito afetada pela da Argentina. Fica feliz em saber que existe certa ordem no caos. De Niro revela, então, que é fã de televisão e diz entender a onda de voyeurismo que retransformou a programação televisiva mundial. "Não me interesso por esses reality shows atuais como Survivor ou Big Brother", diz. "Mas devo confessar que me surpreendo com o caráter cativante dos reality shows policiais como Cops", prossegue. "Se bobear, não me desprego da poltrona e assisto a um episódio inteiro." A popularidade de Cops, programa cujas rondas policiais são acompanhadas por uma câmera, criando um drama voyeurístico de grande impacto, é base para o filme Showtime, estrelado por De Niro e Eddie Murphy, que estréia amanhã em todo o Brasil. A produção do longa é da TriBeCa Productions, companhia comandada pelo ator e a sócia Jane Rosenthal. Contratempos - Desde a virada do milênio, De Niro já levantou quase dez produções, cinco delas estreladas por ele mesmo. No momento, De Niro roda quase que simultaneamente continuações para dois grandes hits: as comédias A Máfia no Divã, co-estrelada por Billy Crystal, e Entrando Numa Fria, com Ben Stiller. Ele também tem os direitos do remake de um longa do diretor japonês Hideo Nakata, Kaosu (Caos), possivelmente a ser estrelado por Benicio Del Toro, e também os da peça Rent, sucesso da Broadway desde 1996. "Mesmo apesar de alguns contratempos, a adaptação da peça vai sair em breve", explica De Niro ao ser perguntado sobre a recente saída do diretor Spike Lee do projeto. Um ponto em comum em alguns filmes produzidos por De Niro e o qual o ator não faz questão de esconder é o nepotismo. Sua filha Drena De Niro, que o ator adotou quando se casou com Diahnne Abbott, em 1976, aparece em cinco filmes do pai. Entre eles, Showtime é aquele em que Drena tem o maior número de falas. Mas não se trata de nada significativo: os diálogos da personagem são bem escassos. Repare nas cenas em que ela contracena com o pai: De Niro parece evitar um contato maior olho a olho. Em Showtime, Drena interpreta a assistente de Chase Renzi (Rene Russo), produtora do reality show que dá título ao filme. Por falar em Rene, que anda assumindo muito bem o papel da quarentona sexy e altamente sedutora (brecha deixada por Susan Sarandon, que virou a tia chata de Hollywood), essa atriz repete outra parceria com De Niro. A primeira foi há dois anos, num fiasco infantil que mescla desenho e cenas de ação reais, As Aventuras de Alceu e Dentinho. De Niro teoriza sobre a filha. "Não é por eu ser pai dela que Drena não deixa de ser testada pelos diretores, que têm a palavra final sobre o elenco." E acrescenta: "Quase nunca falamos sobre nossa profissão. Aliás, nunca dei uma dica para ela por livre e espontânea vontade ou ela própria me pediu. Ela tem uma boa intuição." A entrevista com De Niro é realizada algumas semanas antes do maior trabalho feito por uma celebridade americana para recuperar a imagem da cidade de Nova York pós ataques terroristas de 11 de setembro. Além de ter aparecido na TV na maratona organizada por George Clooney e que usou uma profusão de celebridades como Tom Hanks, Julia Roberts e Bruce Springsteen para arrecadar dinheiro para as famílias das vítimas, De Niro ainda narrou o melhor documentário sobre a queda das torres-gêmeas do World Trade Center: 9/11, dos irmãos franceses Gedeon e Jules Naudet. Mas o grande trunfo do ator foi ter organizado, em tempo recorde (cerca de cinco meses), um festival de cinema classe A para a cidade: o TriBeCa Film Festival. "A idéia nasceu do senso de desolação moral e econômica do bairro nova-iorquino em que moro há décadas", explica De Niro. "De repente, o dono de uma cantina predileta, que sempre tem um lugarzinho quieto reservado para mim nos fundos, diz que vai fechar o estabelecimento por falta de clientela", continua. "Achei que era um dever cívico usar de minha imagem e influência para ajudar meu bairro e minha cidade." Boa causa - De Niro conseguiu. Durante cinco dias, no começo de maio, ele reuniu ordeiramente ma Baixa Manhattan um contingente de celebridades do cinema e da música, jornalistas, diretores estreantes e público em geral para seu festival. Durante a noite, era possível ver famosos como Al Pacino, Robin Williams, Hugh Grant, Sandra Bullock, George Lucas e Natalie Portman cruzar tapetes vermelhos em ruas encrustadas pelo lodo das escavações do WTC para a premiére de seus filmes. De Niro acompanhou tudo pessoalmente. Foi promover o filme que produziu com Hugh Grant (a comédia Um Grande Garoto), assistiu ao novo longa do colega (e eterno competidor) Al Pacino, participou do começo de um debate liderado por Wim Wenders sobre novas técnicas cinematográficas e permaneceu mais de uma hora na projeção da cópia restaurada de Viva Zapata!, de Elia Kazan e com Marlon Brando, apresentada por Martin Scorsese. Caso se torne um evento anual e seja ampliado o seu número de dias, o TriBeCa Film Festival tem tudo para se transformar num grande acontecimento cinematográfico ou, como muitos críticos apontam, uma resposta nova-iorquina ao Sundance. Assim, De Niro estaria se inscrevendo no seleto grupo do qual também fazem parte Robert Redford (criador de Sundance) e Martin Scorsese (patrono da Film Foundation, que supervisiona o trabalho de restauração e conservação de filmes), nomes que realmente se preocupam com o futuro do cinema americano.

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