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Rob Schneider desconstrói a própria grosseria

Garota Veneno, que estréia hoje, lembra os irmãos Farrelly ao assumir e demolir seus preconceitos

Por Agencia Estado
Atualização:

Tom Bradley, que assina Garota Veneno, que estréia hoje, poderia ser o pseudônimo dos irmãos Farrelly, de tanto que o filme que estréia hoje parece pegar carona no humor incorreto da dupla de Quem Vai Ficar com Mary? Na verdade, o ator e roteirista Rob Schneider é o responsável pelo humor selvagem do filme, nem de longe moldado nos valores de correção que hoje tornam tão anódina a produção cômica americana. Parece que a América só tem condições de admitir a incorreção no território da violência. Você pode fazer 1001 objeções a Gangues de Nova York, mas o filme de Martin Scorsese prova não apenas que a América nasceu nas ruas como é uma sociedade gestada na violência. Se a violência é uma obsessão americana, o sexo é a outra. Como lida com seus desejos uma sociedade tão puritana? É a pergunta que está na essência de Quem Vai Ficar com Mary? Também está agora em Garota Veneno. Quem viu Gigolô por Acidente e Animal, sabe que Rob Schneider se inscreve na linha do humor debi & lóide que os Farrelly, com a cumplicidade de Jim Carrey, distribuíram pelo cinema americano. Schneider faz o infeliz funcionário de um posto de serviços. Vira alvo das chacotas de um grupo de patricinhas. Termina, graças a uma mágica, trocando de corpo com a mais entojada de todas. Jessica, interpretada por Rachel McAdams é linda, perfeita, inteligente. Por isso mesmo, a garota nota 10 da escola é a mais odiada de todas. Descobre isso quando, com o corpo de Schneider, tenta reverter o processo. E dê-lhe preconceito. Contra pobre, contra gay, contra os hispânicos em geral. Jessica, no corpo de Schneider, vai trabalhar como jardineiro na própria casa. O pai a chama de "Paquito". Descobre os podres da família. O pai e a mãe não fazem sexo, o irmãozinho é transformista. A todas essas, o boy que tenta arrastá-la para a cama, tão perfeito quanto ela, vomita ao saber que a amada virou homem e a melhor amiga desenvolve uma atração lésbica pelo ser híbrido com quem agora compartilha a intimidade. Instala-se o pandemônio. O sexo, o homossexualismo em especial, vira motivo para todo tipo de grosseria cênica. E, então, o diretor desconstrói o próprio preconceito e revela-se sentimental como foram os Farrellys em O Amor É Cego. O pai e a mãe resolvem seus problemas, a garota mimada humaniza-se, o irmãozinho gay é aceito como é e até a melhor amiga descobre que talvez possa ser feliz com o brucutu Schneider. O diretor reserva, porém, uma reviravolta final, quando o homófobo se assume como gay de carteirinha. Nessa sociedade do dinheiro e do consumo, só o pobre, o loser, se dá mal. Garota Veneno é um horror, mas você vai rir bastante com essa subversão dos códigos de comédias sobre adolescentes. E o filme ainda tem Adam Sandler, numa participação sem crédito.

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