Richard Gere mostra seu lado brincalhão

Gere fala à Agência Estado sobre seu papel no musical Chicago, um dos filmes mais cotados para ganhar o Oscar e que rendeu ao ator o primeiro Globo de Ouro de sua carreira

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Por Agencia Estado
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Richard Gere chega 20 minutos atrasado ao hotel Four Seasons, de Berlim, onde a reportagem da Agência Estado o aguarda para entrevista. "Foi difícil sair da cama. Festejamos até tarde", contou o astro, referindo-se à recepção calorosa de Chicago na abertura da 53ª edição do festival de cinema alemão. O ator de 52 anos tem mesmo motivos para comemorar. Sua performance lhe valeu o primeiro Globo de Ouro de sua carreira e o musical recebeu 13 indicações ao Oscar, incluindo a de melhor filme. "Não sei como consegui o papel. A maioria dos produtores que me viram no teatro nos anos 70, interpretando Danny Zucko de Grease, já morreram", brincou Gere, escalado para interpretar o advogado corrupto Billy Flynn no longa-metragem que estréia no Brasil no dia 28. Bem-humorado, o ator contou que ensaiou a portas fechadas o seu solo de sapateado - um dos principais números musicais dessa versão cinematográfica de montagem da Broadway. "Mesmo assim, tinha medo de que as pessoas do lado de fora me ouvissem. O som já denuncia se você é medíocre como sapateador." Com quase 40 longas-metragens no currículo e uma legião de fãs, Gere disse já ter superado os inconvenientes da fama. "A energia das pessoas é positiva. Só me incomodo um pouco com imagem de galã que a mídia ainda insiste em vender de mim. Ninguém nunca me perguntou se eu queria participar da eleição do homem mais sexy do planeta. Se tivesse escolha, preferia ser ignorado", disse o ator, eleito várias vezes pela revista People como "the sexiest man alive". "Mas logo vão me deixar em paz. Já sou um cinqüentão." Leia, a seguir, os principais trechos da entrevista. Agência Estado - Por que recusou inicialmente atuar em "Chicago"? Teve medo de não atender às exigências de um musical? Richard Gere - Sabia que teria de trabalhar muito, pois começaria do zero, mas não me assustei com a obrigatoriedade de dançar e cantar. Como já tinha visto o musical na Broadway, simplesmente não conseguia vê-lo na tela. Achava que o projeto resultaria em uma daquelas adaptações desastrosas, considerando que a montagem de Chicago no palco carece de estrutura dramática. É mais um mosaico, composto de números musicais. O que o fez mudar de idéia? O roteiro. Mesmo tendo um pé atrás, eu li o roteiro, percebendo que os números musicais na adaptação cinematográfica seriam resultados da imaginação da protagonista, a corista Roxie Hart. Havia uma história consistente e uma forte narrativa, o que não existe no teatro. Assim, tive certeza de que a platéia se envolveria com os personagens. Você interpreta um sujeito brincalhão, uma faceta que explorou pouco nas telas. Isso pesou na hora de aceitar o papel? Não. Isso foi uma qualidade que eu dei ao personagem. Algo que não estava no roteiro. Quem conhecia essa minha característica era só a minha família (a mulher, a atriz Carey Lowell, o filho Homer, de 3 anos, e a enteada Hannah, de 13 anos). Conversando com o diretor (Rob Marshall), comentei que queria trazer esse lado à tona. E ele concordou. Os musicais europeus, dos anos 30 e 40, costumavam trazer um personagem assim, com tendência a fazer uma palhaçada de vez em quando. Mas sem cair no humor pastelão. Billy é perspicaz demais para isso. Seu personagem no filme quer enriquecer a qualquer custo. O que o dinheiro significa na vida de homem envolvido em causas humanitárias como você? Obviamente, depois de tantos filmes, eu tenho algum dinheiro guardado. Não preciso me preocupar com a hipoteca da casa ou com a faculdade dos meus filhos. Mas além disso não significa nada para mim. Quanto mais eu ganho, mais eu faço doações (Gere fundou recentemente um centro para crianças e mulheres portadoras de HIV na Índia). Acho que herdei esse desprendimento dos meus pais. Tive pais maravilhosos. Não tínhamos muito dinheiro, mas nunca nos faltou nada. Meu pai cresceu em fazenda, onde não havia sequer banheiro dentro de casa. Quase sempre você está rodeado de mulheres no cinema (em "Chicago", Gere contracena com Renée Zellweger e Catherine Zeta-Jones). Isso o ajuda a entender melhor o sexo oposto? Não muito. Para ser sincero, penso que nem as próprias mulheres conseguem entender o sexo feminino. Ainda assim, eu gosto de contracenar com mulheres, principalmente porque elas são mais vulneráveis por natureza. E não têm vergonha disso. E essa vulnerabilidade é fundamental para estabelecermos a confiança no set. Para fazermos uma troca em cena, precisamos estar abertos. Qual a sua expectativa para rodar com o cineasta dinamarquês Bille August (mais conhecido por "Melhores Intenções")? Ele fez alguns dos melhores filmes de todos os tempos. Não vejo a hora de começar a filmar, mas o projeto ainda não saiu do papel. Em Without Apparent Motive, eu interpreto um detetive de Los Angeles. Obviamente não será um thriller comum. Bille não se apóia em efeitos especiais ou outros recursos artificiais. Seus filmes são calcados na vida interna dos personagens. Além do terço budista (do qual Gere não se desgruda), o que significa esse cordão branco no seu braço? Foi um presente de um monge budista do Sri Lanka que me visitou na semana passada. Com isso, estarei sempre protegido.

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