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Retrospectiva de Roberto Santos em SP

O diretor de O Grande Momento forma, com Luiz Sérgio Person e Walter Hugo Khouri, o tripé que pode ser considerado a base do moderno cinema paulista

Por Agencia Estado
Atualização:

Completam-se, em 2002, 15 anos da morte de Roberto Santos. O diretor regressava do Festival de Gramado quando teve, no aeroporto de Cumbica, o enfarte que o matou. Era maio de 1987 e Santos estava decepcionado com a acolhida que recebeu o que terminou sendo seu último filme: Quincas Borba. Na verdade, a amargura devia ser anterior, pois havia tempos que os filmes do diretor não suscitavam mais as reações favoráveis que ele teve na época de O Grande Momento, A Hora e a Vez de Augusto Matraga e O Homem Nu. O impacto menor desses filmes não abalava a reputação de Roberto Santos como incansável batalhador do cinema brasileiro, em geral, e do paulista, em particular. E ele era generoso, apoiava e até estimulava vocações. É chegada agora a hora e a vez de Roberto Santos. Há cinco anos, o pesquisador Inimá Simões lançou um livro - Roberto Santos - A Hora e a Vez de um Cineasta - cuja proposta declarada já era estimular a revisão da obra do diretor nascido em São Paulo, em 1927. Com Luiz Sérgio Person e Walter Hugo Khouri, ele forma o tripé que pode ser considerado a base do moderno cinema paulista. Nada mais oportuna, portanto, que a homenagem que a Sala Cinemateca presta a Santos, ao exibir uma retrospectiva de seus filmes. Mais oportuna ainda ela fica porque, neste momento, o Centro Cultural Banco do Brasil exibe outra mostra, dedicada ao cinema paulista da retomada. É possível mapear, assim, uma parte significativa da produção de cinema em São Paulo por meio dessas duas mostras. Roberto Santos começou neo-realista. Em 1955, Nelson Pereira dos Santos havia revolucionado o cinema brasileiro com o impacto de um filme que se tornou clássico: Rio 40 Graus. Dois anos mais tarde, com produção de Nelson, Santos fez o equivalente desse filme em São Paulo. Filmando no Brás e tendo como personagens pessoas comuns, do povo - mesmo que interpretadas por atores: Gianfrancesco Guarnieri, Miriam Pérsia e Paulo Goulart -, O Grande Momento liberou o cinema paulista do ranço acadêmico de experiências industriais como a da Vera Cruz, que a historiadora Maria Rita Galvão identifica como ´cinema da burguesia paulista´. À experiência neo-realista de O Grande Momento seguiu-se, na obra do diretor, algo completamente diverso - um mergulho profundo no denso universo rural de Guimarães Rosa. A Hora e a Vez de Augusto Matraga, baseado no conto de Sagarana, o Duelo, filtra o gênio de Rosa por influências assimiladas do cinema japonês, sempre muito forte em São Paulo. A interpretação de Leonardo Villar e a música de Geraldo Vandré completam a excelência da adaptação. Você não vai esquecer a fala antológica de Matraga: "Jesus manso e humilde de coração, fazei meu coração semelhante ao vosso." O Homem Nu, com Paulo José, é uma boa adaptação do livro de Fernando Sabino. O episódio de As Cariocas é melhor ainda: com todo o respeito que Matraga merece, talvez seja a verdadeira obra-prima de Roberto Santos. E Íris Bruzzi faz parte das emoções inesquecíveis do cinema nacional como a carioca que provoca tumulto ao lavar o carro na rua, em trajes sumários.) Serviço - Retrospectiva Roberto Santos. Sexta, às 18 horas, ´O Grande Momento´/58, dur. 84 min., e ´A João Guimarães Rosa´/68-69, dur. 10 min.; sexta, às 20 horas, ´Os Amantes da Chuva´/78, dur. 106 min. Sábado, às 16 horas, ´Um Anjo Mau´/71, dur. 107 min., e ´Primeira Chance´; sábado, às 18 horas, ´As Cariocas´/66, dur. 82 min.; sábado, às 20 horas, ´A Hora e a Vez de Augusto Matraga´/65, dur. 106 min., e ´Judas na Passarela´/79. Domingo, às 15h30, ´Vozes do Medo´, com debate; domingo, às 18 horas, ´Contos Eróticos´/77; domingo, às 20 horas ´As Três Mortes de Solano´/75, dur. 105 min., e ´A João Guimarães Rosa´/68-69, dur. 10 min. Quarta, às 18 horas, ´Quincas Borba´/86, dur. 98 min.; quarta, às 20 horas, ´O Homem Nu´/68, dur. 112 min., e ´Primeira Chance´. Quinta, às 18 horas, ´Nasce uma Mulher´/82, dur. 98 min.; quinta, às 20 horas, ´A Hora e a Vez de Augusto Matraga´/65, dur. 106 min., e ´A João Guimarães Rosa´/68-69, dur. 10 min. De quarta a domingo. R$ 6 00. Sala Cinemateca. Largo Senador Raul Cardoso, 207, São Paulo, tel. 5084-2318. Até 14/3

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