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Regina Jehá documenta grandes navegações

Ela está de viagem marcada para a Índia para filmar Por Mares Nunca Dantes Navegados, documentário que tratará do que ocorreu antes que Pedro Álvares Cabral aportasse na costa brasileira, em 22 de abril de 1500

Por Agencia Estado
Atualização:

Viúva de Luís Sérgio Person, diretor dos cults São Paulo S.A. e O Caso dos Irmãos Naves. É uma referência, importante, por certo, mas não é a melhor maneira de definir Regina Jehá. Ela integrou a primeira turma de cinema formada pela ECA, a Escola de Comunicações e Artes da USP, a Universidade de São Paulo. Foi colega de Ismail Xavier, de Carlos Augusto Calil, de Djalma Limongi Batista - "De todo o mundo, pode botar aí", ela diz. Regina embarca quinta-feira para a Índia. Vai para a Costa de Malabar, na Índia ocidental. Regina viajará munida de sua câmera, uma mini-DV. Não é uma viagem de turismo, mas de trabalho. Regina vai captar imagens para seu documentário em vídeo Por Mares Nunca Dantes Navegados. Sua equipe? "Sou eu, sozinha", ela diz. Foi assim em Portugal, onde ela gravou a primeira metade do documentário de 52 minutos para televisão. Essa primeira parte já está editada. "Gosto muito", define Regina. Pode-se apostar na qualidade porque Regina, formada em Ciências Sociais, não é apenas documentarista de longa data, mas também curadora de diversos ciclos e mostras dedicadas ao índio, ao sertão. Todas se caracterizam pelo alto grau de exigência na seleção do título e na conceituação (e contextualização) desses filmes, tarefas que cabem à curadora. O projeto é orçado em R$ 200 mil. Regina conseguiu levantar a verba por meio do Ministério da Cultura (participou de um concurso) e do BNDS, mas também está investindo dinheiro do próprio bolso, cerca de 20% desse total. É a prova de quanto acredita no projeto. Regina não é historiadora, mas sempre se interessou muito pela epopéia do descobrimento. Há toda uma história que a fascina, e que raramente é contada, sobre o que ocorreu antes que Pedro Álvares Cabral aportasse na costa brasileira, em 22 de abril de 1500. Esse "antes" a arrebata. Regina sabe que as grandes navegações e o Descobrimento ocorreram por acaso, porque um belo dia os reis de Espanha e Portugal acordaram e disseram: "Vamos colocar nossas naus no mar para descobrir a América e o Brasil." Não - as grandes navegações ocorreram no bojo do desenvolvimento tecnológico que criou instrumentos capazes de garantir a orientação das naus no mar, além de criar embarcações mais adequadas e resistentes. E não apenas isso. Ocorreu no quadro de movimentos como a Revolução Comercial e o Renascimento. Para contar essa história, para contextualizar o Descobrimento, Regina entrevistou, em Portugal, historiadores que não são chapa branca, como ela diz. "Não integraram as comissões dos 500 anos, não têm uma visão oficial da história, mas são muito respeitados." Gente como Rui Parreira e Cláudio Torres, homônimo do diretor brasileiro, filho da grande Fernanda Montenegro e irmão de Fernanda Torres. Na primeira parte de Por Mares Nunca Dantes Navegados, ela gravou imagens e depoimentos em Portugal. Também selecionou trechos de Camões (Os Lusíadas) e Fernando Pessoa para costurar esses depoimentos, compondo a simetria audiovisual do vídeo. O que a leva agora à Índia é a vontade de rastrear, ainda no quadro das grandes navegações e do Descobrimento, os caminhos percorridos pelos navegadores portugueses, quando tentavam uma rota alternativa em busca das especiarias do Oriente. Regina também está se lançando por mares nunca dantes navegados. Vai ficar um mês na Índia fazendo tudo - escolhendo locações, buscando possíveis entrevistados. Tem pesquisado muito na Internet, mas são coisas que terá de resolver somente lá. A viúva de Person é mãe de suas filhas Marina e Domingas lindas, talentosas e também ligadas ao cinema. Regina, formada pela ECA, já era documentarista conhecida quando Person morreu, em 1976. Até 1995, durante quase 20 anos, ela parou com o cinema para administrar o teatro que foi o sonho final dele, o Auditório Augusta. Desde então, voltou ao cinema. Fez a curadoria de mostras, retomou o gosto pelo documentário. "Por Mares Nunca Dantes Navegados" deve ficar pronto este ano. Está sendo feito para TV, mas Regina não está fazendo contato prévio com nenhuma rede ou emissora. "Quero mostrar o vídeo já pronto", diz.

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