Referências a mestres do cinema surgem em cenas de Woody Allen

Protagonista de 'O Festival do Amor', novo longa do diretor, vive em universo de fantasia, ora num filme de Fellini, ora de Truffaut, ou Bergman

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Por Luiz Carlos Merten
Atualização:

Há quase 30 anos, a separação de Woody Allen e Mia Farrow, coincidindo com o lançamento de Maridos e Esposas, virou um escândalo planetário. Nos anos seguintes, a situação não aliviou. Allen vem sofrendo sucessivas acusações de abuso. Virou um autor malvisto em Hollywood. Woody, que não tem mais nada a perder, segue seu ritmo. Um filme por ano, todos os anos. Mantém-se fiel a Nova York, mas virou globetrotter. Fez filmes em Barcelona, Paris, Roma. De volta à Espanha, o novo filme passa-se em San Sebastián. 

Cena do filme 'O Festival do Amor', novo longa de Woody Allen, lançado em 2021 Foto: Gravier Productions

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Marcas

Rifkin’s Festival, ou O Festival do Amor. Wallace Shawn lecionava cinema. Largou o ofício para escrever um grande romance. A mulher permanece ligada à indústria. Ele a acompanha no Festival de San Sebastián. Vê Gina Gershon aproximar-se cada vez mais de um jovem autor francês – Louis Garrel. Hipocondríaco, vai parar no consultório de uma médica. Envolve-se com Elena Anaya. Mort Rifkin – o nome do personagem – é o típico personagem alleniano. Judeu nova-iorquino, intelectual, pretensioso.

De tanto falar sobre cinema, Mort viu a mulher amada – a primeira – migrar para os braços do irmão. Vive num universo de fantasia, ora num filme de Federico Fellini – a sua versão de Oito e Meio -, ora de François Truffaut – Jules e Jim –, ou Ingmar Bergman – Persona. Gina e Elena protagonizam uma cena com legendas do último – discutindo a existência de Deus. Mort é truffautiano no sentido de que é um romântico que não sabe lidar com o próprio romantismo. Lança uma pergunta a seu psicanalista – E agora? Não tem resposta.

A verdade é que as coisas não são tão ruins como parecem – para Woody e o próprio Mort. Allen sempre amou seus mestres europeus, mas lá atrás, no começo de sua carreira, pagou tributo ao mito de Humphrey Bogart e a Casablanca. Mesmo que tudo dê errado, Mort nunca permanecerá sozinho. Bogart e Bergman tinham a lembrança de Paris. Mort tem o cinema, o seu Botão de Rosa. Allen até recria a famosa cena inicial de Cidadão Kane, o clássico de Orson Welles. Cinéfilos de carteirinha se sentirão em casa. 

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