Redford dirige "Lendas da Vida"

Matt Damon faz o papel de Rannulph Junuh, garoto promissor, bom jogador de golfe, que é convocado para a guerra (trata-se da 1.ª Guerra Mundial), vai para as trincheiras e não volta do mesmo jeito

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Por Agencia Estado
Atualização:

Não há tema mais norte-americano que o da segunda chance. Por acaso, esse mote é tratado de maneira irônica no filme de David Mamet que também estréia amanhã, Deu a Louca nos Astros. E é levado a sério neste Lendas da Vida, dirigido por Robert Redford. Redford está apenas por trás das câmeras. Não atua. Em seu lugar, como protagonista, o bom Matt Damon. Ele faz o papel de Rannulph Junuh, garoto promissor, bom jogador de golfe, que é convocado para a guerra (trata-se da 1.ª Guerra Mundial), vai para as trincheiras e não volta do mesmo jeito. Torna-se um beberrão desiludido. Um pária. Acontece que, ao voltar, ele se reencontra com uma antiga namorada, Adele (Charlize Theron), herdeira de um clube de golfe arruinado e que planeja promover um torneio para levantar o local. Precisa de Damon, claro, para representar a cidade. O problema será reabilitar o ex-jogador. Para essa reabilitação contribuem não apenas a beleza considerável de Charlize como um estranho caddie (o carregador dos tacos e técnico ocasional) vivido por Will Smith e o inevitável garoto em busca de ídolo. A maior parte do filme é gasta no jogo da vida de Rannulph Junuh - aquele em que ele vai decidir se fraqueja ou agarra o destino pela garganta, na expressão uma vez usada por Beethoven. Por mais que Lendas da Vida seja simpático (e é) fica difícil evitar a impressão de infantilidade deixada pelo filme. Tudo é tão previsível, esquemático, batido quanto os acordes grandiloqüentes que acompanham os momentos mais dramáticos. Completam o quadro aqueles visuais de cartão-postal, um pôr-do-sol aqui, uma lua cheia ali, tudo no figurino acadêmico tão ao gosto de Redford, no entanto patrono do cinema dito independente. A técnica de narração é correta, tipo manual de Syd Field. Quer dizer, o espectador é levado pela mão a participar da historinha e, sem querer, pode tirar dela as conseqüências desejadas. Ou seja, que só se alcança o que se deseja com muito esforço e amor, etc. Mas esforço sozinho não ajuda. É preciso também uma mãozinha "lá de cima". Quer dizer, Lendas da Vida não deixa de lado o aspecto religioso. Ajuda-te e serás ajudado. Enfim, tudo embrulhado num bom pacote de auto-ajuda, gênero em alta em tempos difíceis e pouco propensos a projetos coletivos.

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