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Rede Globo investe na indústria cinematográfica

Por Agencia Estado
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Quando começou a virar filme, O Auto da Compadecida era um tiro no escuro. O apoio da Globo ao projeto foi quase como "mecenato", na definição do diretor Guel Arraes, responsável tanto pela minissérie de 1999 quanto pela atual versão dos cinemas. Em cartaz há dois meses, as peripécias de João Grilo (Matheus Nachtergaele) e Chicó (Selton Mello) viraram a mais bem-sucedida cartada de uma faceta recente da Globo: a de indústria cinematográfica. Criada há três anos, a Globo Filmes já é um monstro no setor. É dela metade das dez maiores bilheterias nacionais da década (ver tabela). Em dois anos, movimentará, só para longas, um orçamento de R$ 30 milhões, em grande parte captado pelas leis de incentivo (Audiovisual e Rouanet). Co-produções com megaestúdios já estão engatilhadas e há até uma linha de telefilmes, ao custo de US$ 1 milhão cada, para exibição mensal no vídeo. O sucesso de O Auto estreou uma linha de produção da empresa, a que recicla atrações vistas na TV. Outra microssérie, Luna Caliente (1999), chegará aos cinemas no segundo semestre de 2001. As minisséries A Invenção do Brasil (2000) e A Vida como Ela É (1994) virão na seqüência. "Estamos atentos a qualquer coisa nova que façamos na TV e possa ter espaço próprio no cinema", diz Cláudia Quaresma, diretora da Globo Filmes. Para consolidar os projetos, a empresa ainda depende do aval de grandes distribuidores, como Warner e Columbia Pictures, fundamentais para uma distribuição nacional. Foi assim com O Auto. No início, a Columbia topou ser parceira, mas queria lançá-lo em circuito mínimo - oito salas. O filme, que custou para a Globo R$ 2,5 milhões (R$ 2 milhões da série mais R$ 500 mil de finalização para o longa), acabou em 80 salas, com extra de R$ 700 mil, investidos pela Columbia em marketing. Hoje, está em 174 cinemas. O suficiente para, sete semanas após a estréia, ter atraído 1,7 milhão de pessoas e R$ 9,4 milhões. Fora as produções da emissora, a Globo Filmes prepara vôos próprios. "Estou com 15 projetos em estudo", garante a diretora, que planeja um ritmo de quatro a seis longas por ano a partir de 2001. A maratona começa terça-feira, com as filmagens de A Partilha, no Rio, e inclui roteiros diversificados, que vão de Sandy & Júnior ao diretor Hector Babenco, passando pela tresloucada turma do Casseta. A Partilha terá como protagonistas Glória Pires, Lília Cabral, Andréa Beltrão e Paloma Duarte, sob a direção de Daniel Filho, diretor-artístico da Globo Filmes. A trama de Miguel de Falabella será lançada em maio. O orçamento é de R$ 3 milhões. Pelo mesmo valor, a Globo pretende rodar o filme de estréia de Sandy & Júnior, em julho. Mais caras serão as adaptações de obras literárias. Estação Carandiru, de Dráuzio Varela, que já ganhou adaptação teatral de Dib Carneiro, terá versão em celulose de Hector Babenco (Pixote e O Beijo da Mulher-Aranha). A Globo espera captar R$ 12 milhões até o início das filmagens, em maio. A previsão de lançamento é 2002. Olga, da obra de Fernando Morais, está orçado em R$ 7 milhões, mas poderá sair mais caro se houver locações na Europa. A meta da Globo Filmes é lançá-lo em 2002, com Patrícia Pillar no papel-título, Fernanda Montenegro numa ponta de luxo e Luiz Fernando Carvalho (O Rei do Gado) na direção. O infantil A Chave do Tamanho, de Monteiro Lobato, ainda não tem orçamento definido, mas já está com o diretor escalado, Andrucha Waddington. "Para esse filme, vamos esperar o novo Sítio do Picapau Amarelo, que a Globo exibirá em 2001, com nova abordagem. Mas já sabemos que terá computação gráfica misturada com atores, uma coisa a la Querida, Encolhi as Crianças", conta Cláudia Quaresma. O projeto deve estrear só no segundo semestre de 2002. A Columbia Picutres acabou de fechar um acordo com a Globo para co-produzir quatro longas - A Partilha, O Homem que Copiava (roteiro original do diretor Jorge Furtado), Sandy e Jr. e um quarto título ainda não definido. "Não temos pressa, só começamos a rodar com boa parte dos recursos já captados", conta a diretora Cláudia Quaresma. Para ela, a experiência da Globo na TV ajuda na hora de planejar uma empreitada cinematográfica. "Temos know-how e sistemática de produção." Fechando o círculo, a Globo Filmes também tem projetos para o que Cláudia Quaresma chama de "terceira vertente". São os telefilmes, conhecidos nos Estados Unidos pela sigla mow (movie of the week, filme da semana). Nesse caso, a parceria com os estúdios norte-americanos começa já nos roteiros. A diretora argumenta que o telefilme exige uma dinâmica de narrativa pouco praticada pelos roteiristas brasileiros. Por isso, a Globo quer testar o novo formato importando tramas e fazendo adaptações para a realidade brasileira. "Estamos fechando os pacotes", afirma Cláudia Quaresma. "A princípio, não teremos filmes semanais, nossa idéia é criar ritmo próprio de produção com um filme por mês." Os telefilmes, que também poderão ser exibidos em canais pagos, custarão, em média, R$ 1 milhão. Antes de estrear a novidade, a Globo quer ter uma margem de títulos prontos como garantia. A Columbia e a Warner estão interessadas e já apresentaram suas propostas. De qualquer modo, as filmagens podem ter início ainda este ano. "Agora, só depende da Globo", diz um funcionário da emissora.

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